Uma em cada cinco pessoas passou fome em África em 2023, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) hoje divulgado no Rio de Janeiro, Brasil.
De acordo com o relatório da FAO, África é a região com a maior percentagem (20,4%) de população que passa fome, cuja estimativa, para o ano de 2023, é de 298,4 milhões de pessoas.
A prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave em África foi de 58% em 2023, quase o dobro da média global, sendo que estes valores se mantiveram praticamente inalterados de 2022 para 2023.
"O número de pessoas incapazes de pagar uma dieta saudável desceu abaixo dos níveis pré-pandémicos na Ásia, na América do Norte e na Europa, mas aumentou substancialmente em África, onde subiu para 924,8 milhões de pessoas em 2022, mais 24,6 milhões do que em 2021 e 73,4 milhões em comparação com 2019", salientou.
No entanto a Ásia, cuja percentagem de população que passa fome é de 8,1%, continua a ser o continente com mais pessoas a passar por esta realidade: 384,5 milhões de pessoas, indicou.
Segundo as previsões apresentadas pela FAO, em 2030 África passará a representar 53% das pessoas subnutridas no mundo - ultrapassando a Ásia.
Estima-se que, nesse ano, 582 milhões de pessoas sofram de subnutrição crónica no mundo.
"A falta de melhorias na segurança alimentar e os progressos desiguais no acesso económico a regimes alimentares saudáveis ensombram a possibilidade de alcançar a Fome Zero no mundo, a seis anos do prazo de 2030", lamentou.
Segundo a FAO, é necessário acelerar a transformação dos sistemas agroalimentares para reforçar a sua capacidade de resistência aos principais fatores e combater as desigualdades, a fim de garantir que os regimes alimentares saudáveis sejam acessíveis e estejam disponíveis para todos.
"Em dois países de baixo rendimento - o Benim e o Uganda - a despesa pública com a segurança alimentar e a nutrição parece estar a aumentar. Em média, durante os períodos analisados, 65% do total da despesa pública em segurança alimentar e nutricional no Benim e 73% no Uganda foram dirigidos ao consumo de alimentos e ao estado de saúde; a parte restante destinou-se aos principais fatores subjacentes aos recentes aumentos da fome, da insegurança alimentar e da malnutrição", exemplificou.
A ajuda pública ao desenvolvimento e outros fluxos oficiais para a segurança alimentar e a nutrição, de 2017 a 2021, "cresceram esmagadoramente mais para África, em todas as regiões", frisou.
Um estudo realizado em seis países da África Subsariana, citado pela FAO, mostra que se perderia a oportunidade de aumentar a produção agroalimentar, de criar milhares de empregos fora das explorações agrícolas nas zonas rurais e de permitir que milhões de pessoas saiam da pobreza e tenham uma alimentação saudável, a menos que os governos destes países otimizem a forma como afetam o seu orçamento aos setores da agricultura e da pecuária, concluiu a agência da ONU.