A Associação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA) de Angola pediu hoje ponderação das autoridades na introdução de sementes transgénicas no país, alertando para a escassez de fertilizantes e inexperiência dos pequenos agricultores.
Pequenos agricultores dominam grande parte da estrutura agrária de Angola e estes, para a ADRA, não estarão em condições de fazer face à utilização de sementes geneticamente modificadas, dada a sua exigência em termos de fertilizantes.
“Sem dúvidas que este tipo de sementes tem níveis muito alto de produtividade, garante produções altíssimas, mas como são sementes que sofreram alterações genéticas são também exigentes em termos de fertilizantes, de produtos para o controlo de pragas e doenças”, disse hoje o secretário-geral da ADRA, José Katiavala.
Em declarações à Lusa, o responsável sinalizou que os pequenos agricultores em Angola continuam com dificuldades no acesso aos fertilizantes e a introdução de sementes geneticamente modificadas pode agravar a escassez desse produto neste segmento agrícola.
E, “por isso, não estão ao alcance, por exemplo, dos pequenos agricultores que dominam a nossa estrutura agrária”, referiu, realçando que sementes modificadas podem contribuir para a erosão das sementes nativas.
“Daí que, há uma corrente que aconselha que para um país como Angola, provavelmente, as sementes geneticamente modificadas não é a prioridade”, salientou.
“Temos problemas cruciais como, por exemplo, o acesso aos fertilizantes, já que grande parte dos nossos solos têm pouca fertilidade natural, poderíamos optar por outro tipo de sementes melhoradas, mas não necessariamente as sementes transgénicas”, insistiu.
O Presidente angolano, João Lourenço, criou, recentemente, um Comité de Sementes Geneticamente Modificadas (CSGM), visando estabelecer um sistema de biossegurança com normas e mecanismos de fiscalização no país da importação, cultivo, trânsito, investigação, libertação no ambiente, manuseio e uso dessas sementes.
Segundo o Portal do Governo de Angola, o CSGM realizou a sua primeira reunião na sexta-feira, ocasião em que o seu coordenador e ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, realçou que a operacionalização do órgão deve “acelerar, potenciar e fomentar o crescimento da atividade agrícola”.
“Os desafios atuais da segurança alimentar em Angola exigem um aperfeiçoamento das técnicas de produção, baseadas na ciência e na biotecnologia moderna, especialmente face às alterações climáticas e ao crescimento populacional”, referiu Massano, citado pelo portal.
A introdução de sementes transgénicas no país, disse por outro lado o secretário-geral da ADRA, "exige" também um investimento na investigação, observando que a investigação em Angola abarca inúmeros problemas.
A investigação em Angola “tem os problemas que conhecemos, não temos instituições especializadas para que possam dar corpo a esta matéria, temos um ou outro, mas são pouquíssimos e este é um outro desafio”, argumentou.
“A minha opinião pessoal é que não é prioridade, tendo em conta os problemas agrícolas que nós temos, sem descurar obviamente, que há um setor empresarial emergente do agronegócio que pretende melhorar os níveis de produtividade (…), mas tem consequências ambientais. Este é um tema que acho estará na agenda nos próximos tempos”, concluiu José Katiavala.