O Exército israelita voltou a atacar hoje a localidade de Khan Younis, sul da Faixa de Gaza, com um balanço de dezenas de mortos, e ordenou à população do leste da cidade que volte a abandonar a zona.
Em comunicado, o Exército justificou a decisão pelo facto de o movimento islamista Hamas possuir uma “infraestrutura terrorista” na área, designada pelos israelitas “zona segura” em maio, no início da sua ofensiva sobre Rafah, a cidade mais a sul de Gaza e onde se concentravam centenas de milhares de palestinianos.
As forças israelitas abandonaram Khan Younis em abril, após uma ampla ofensiva militar que se prolongou por quatro meses. No final desta ofensiva, o chefe de estado-maior israelita, Herzi Halevi, anunciou a quase “eliminação” do Hamas após perder a maioria das suas capacidades militares.
No entanto, Israel admite agora que o grupo armado palestiniano lança numerosos foguetes a partir dessa zona, e suspeita que o líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, considerado o principal responsável pelos ataques de 07 de outubro, permanece num dos túneis subterrâneos da localidade.
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, anunciou em paralelo pelo menos 70 mortos após os ataques israelitas em Khan Younis, e quando parte da população voltou a ser deslocada para a “zona humanitária” de Mawasi, cuja área foi reduzida.
“Os ataques de massacres perpetrados pela ocupação sionista na região de Khan Younis desde a manhã e até ao momento” provocaram a morte de “70 mártires e mais de 200 feridos, muitos em estado grave”, indicou o ministério.
A Defesa civil de Gaza informou ainda que a ordem de retirada de parte da população da cidade afeta 400.000 pessoas, acusando as forças israelitas de “cometerem crimes contra a humanidade de forma organizada, planeada e premeditada, forçando milhares de deslocados e civis a abandonar as suas casas e refúgios, onde já tinham uma vida difícil”, segundo um comunicado.
O Crescente Vermelho palestiniano assinalou por sua vez que esta ordem de retirada obrigou ao encerramento das clínicas na parte leste da cidade.
Apesar de o Exército israelita indicar que pretende “mitigar os danos à população civil e manter os civis afastados das zonas de combate”, já foram registadas por diversas ocasiões ataques das tropas judaicas em zonas com elevada concentração populacional, incluindo em Rafah ou nos campos de deslocados no centro da Faixa de Gaza, incluindo o ataque de 13 de julho na zona humanitária de Mawasi, com um balanço de 90 mortos e 300 feridos segundo as autoridades locais.
Estas novas ordens comprimem o escasso terreno disponível na zona de Mawasi, onde se encontram concentrados mais de um milhão de deslocados, na maioria provenientes de Rafah.
“A situação é impossível. O ciclo de medo e os deslocamentos decorrem há demasiado tempo. Todas as pessoas estão esgotadas”, disse em mensagem na rede social X a agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA).
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, foram hoje ultrapassados os 39.000 mortos desde o início da ofensiva israelita em outubro, e pelo menos 80.000 feridos.
Este balanço não inclui os milhares de cadáveres que permanecem sob os escombros em locais de difícil acesso, num cenário de devastação quase total.
Em 05 de julho, três académicos publicaram na revista científica The Lancet um artigo em que afirmam "não ser implausível" que o número de mortos na Faixa de Gaza seja superior a 186 mil nos últimos nove meses e meio, cinco vezes mais que os números oficiais denunciados pelo Ministério da Saúde de Gaza, referentes a mortos identificados. O cálculo baseia-se num histórico "conservador" de outros conflitos, de quatro mortes indiretas por cada morte direta, recorrendo aos números das autoridades de saúde de Gaza.
A ausência de cuidados médicos e de medicamentos, as doenças, a fome premeditada, os sequestrados pelas forças israelitas ou as execuções sumárias incluem-se nesta estimativa.
A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
O Exército israelita respondeu com uma devastadora campanha militar em Gaza que já provocou mais de 38.800 mortos e perto de 90.000 feridos, de acordo com o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas desde 2007.