A Associação Nacional dos Estudantes de Medicina assina hoje com o Conselho das Escolas Médicas um compromisso para ajudar a combater as carências financeiras destes estudantes, que prevê protocolos entre escolas e hospitais, podendo alargar-se a outros parceiros.
“Um estudante que estuda numa instituição de ensino superior vai suportar mensalmente um valor de despesas como a propina, a habitação e a própria alimentação, e, depois, existem alguns gastos específicos das licenciaturas e dos mestrados que acrescem a estas despesas”, explicou à Lusa a presidente da Associação Nacional dos Estudantes de Medicina (ANEM), Rira Ribeiro.
A responsável sublinha que, no que se refere aos estudantes de medicina, “estas despesas correspondem tanto a gastos com a formação teórica, nomeadamente a aquisição de bibliografia, (…) como com a questão prática, com a aquisição de algum material que é obrigatório para a frequência dos estágios”.
O compromisso a assinar hoje prevê a criação de protocolos entre cada escola médica, respetivos hospitais nuclear e afiliados, assim como associação e/ou núcleos de estudantes. Podem ainda ser alargados a outros parceiros estratégicos e sociais da região abrangida, incluindo as Áreas Metropolitanas do Porto e Lisboa e as comunidades intermunicipais.
“Queremos com este compromisso identificar estes problemas e ter aqui um pontapé de saída para conseguirmos alterar algumas coisas”, disse Rita Ribeiro, exemplificando que “o alojamento, enquanto despesa mais basal, [no estudante deslocado] tem um custo médio de cerca de 545 euros”.
Aponta ainda os preços das refeições, alertando que “muitas vezes a frequência dos estágios longe das instituições de ensino superior impede os estudantes de usufruírem da refeição social”.
“Nos próprios locais de estágio, as refeições variam entre os dois euros e setenta e os sete euros, o que é significativamente diferente daquilo que a própria refeição social que está nos cerca de três euros”, acrescentou.
No que se refere aos transportes, lembra que as áreas metropolitanas como Lisboa e Porto têm um passe próprio (Navegante ou Andante), mas lembra que existem alguns locais em que estes trajetos “têm de ultrapassar determinadas distâncias, (…) podendo chegar aos 90 km”, o que implica muitas vezes “a utilização de um transporte privado”.
Rita Ribeiro reconhece que existem algumas limitações nas instituições de ensino superior, “nomeadamente em termos de recursos humanos e financeiros e da própria competência”, defendendo que a abordagem a estes problemas seja “multissetorial”.
Por isso, a ANEM elaborou um documento que identifica todas estas dificuldades e propõe soluções.
A associação entregou esse documento aos ministérios da Educação, Ciência e Inovação e da Juventude e Modernização, para ajudar a colmatar estas despesas extra suportadas pelos estudantes de medicina.
Entre as várias sugestões estão a criação de um observatório para recolher dados que possam ajudar depois na decisão sobre políticas públicas.
Na área dos transportes, a ANEM pretende a limitação de custos caso a cobertura em transporte público não seja passível de ser realizada na sua totalidade, para uma determinada distância, entre o local de estágio e a escola médica.
“De acordo com aquilo que for protocolado, obviamente deve ser fornecida a possibilidade de o próprio estudante, se quiser, ficar na sua área de residência”, acrescenta Rita Ribeiro.
A responsável explica ainda que a ideia é, sempre que possível, “abranger outros estudantes, nomeadamente estudantes de saúde”.