A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) viu suspensa a sua reunião de hoje com o Ministério da Saúde, depois de a tutela ter anunciado que não negociava com movimentos com pré-aviso de greve marcados, disse a presidente.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da ASPE, Lúcia Leite, disse que “foram surpreendidos” com a posição do executivo, já que o pré-aviso da associação sindical é para 02 de setembro e que o ministério tinha conhecimento prévio do mesmo.
Segundo Lúcia Leite, o Governo ficou de reavaliar a sua posição, sendo que “a ASPE deixou claro que não iria fazer a suspensão de uma greve que só está anunciada para 02 de setembro e que, se nestes dois meses se negociar aquilo que estava previsto não faz qualquer sentido estar a colocar esta situação”.
“Entendemos que este é um ‘fait-divers’ que o Governo apresenta, parecendo demonstrar que tem pouca vontade de negociar com os enfermeiros e sobretudo com uma estrutura que lhe apresentou propostas desde abril e que até agora não teve nenhuma resposta a qualquer uma das suas propostas”, vincou.
Contudo, Lúcia Leite disse que ficam a aguardar para o início da próxima semana uma proposta do Governo para continuar as negociações.
A dirigente explicou que após a reunião gorada com o ministério, teve lugar uma outra, de quase duas horas, da comissão negocial que envolve várias entidades do Serviço Nacional de Saúde, “sobre outras matérias que são muito importantes para os enfermeiros” e que se “acabou por traduzir num encontro muito profícuo para resolver essas matérias”.
“Provavelmente no início da próxima semana daremos informação de qual a situação, sendo que a ASPE não está disponível para suspender a greve, mas está disponível para iniciar outras ações de luta se o Governo interromper as negociações, porque se isso acontecer significa que o executivo faltou à sua palavra, o que não vamos aceitar”, garantiu.
Também o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEF) viu hoje suspensa a sua reunião com o Ministério da Saúde, por ter um pré-aviso de greve para 02 de agosto, posição da tutela que considerou “completamente intolerável”.
“Os enfermeiros têm de se manter quietos e calados durante todo o processo negocial. Isto determinou que desta reunião não resultasse nada e a suspensão do processo negocial enquanto durar o pré-aviso de greve”, disse à agência Lusa Guadalupe Simões, dirigente do SEP.
Comentando o que foi discutido na manhã de hoje numa reunião com a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, a sindicalista afirmou que se trata de “um atentado contra o direito à greve dos trabalhadores”.
“Há anos que não se assistia a uma [tal] prepotência por parte de um Governo relativamente ao exercício do direito à greve”, lamentou.
Guadalupe Simões acusou o Governo de “quase chantagem” para que “exista uma paz social” durante o processo negocial.
A dirigente do SEP adiantou ainda que até ao dia da greve as duas reuniões que estavam previstas para 25 e 31 de julho com Ana Paula Martins foram canceladas.
Na terça-feira, SEP convocou uma greve para 02 de agosto, alegando que a apresentação da proposta de alteração das grelhas salariais “continua por cumprir”.
Na última reunião com a tutela, em 03 de julho, o SEP assinou o protocolo negocial, lamentando que na reunião não tenha sido apresentada a proposta de grelha salarial.
Entre os temas que constam do protocolo negocial está a carreira de enfermagem, especificamente a tabela salarial, a questão da organização do tempo de trabalho e outras matérias já identificadas pelo SEP e outras que eventualmente venham a ser identificadas durante o processo negocial.