SAÚDE QUE SE VÊ

Necessidades humanitárias da Síria nos níveis mais elevados em 13 anos de conflito - ONU

LUSA
25-06-2024 23:45h

A Síria enfrenta atualmente os níveis mais elevados de necessidades humanitárias desde o início do conflito, há 13 anos, e a "situação só deteriora a cada mês", alertaram hoje as Nações Unidas (ONU).

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU para abordar os desenvolvimentos políticos e humanitários na Síria, o líder do Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA) em Genebra, Ramesh Rajasingham, indicou que quase 13 milhões de pessoas – mais de metade da população síria – já enfrentam níveis elevados de insegurança alimentar aguda.

De acordo com Rajasingham, mais de 650.000 crianças com menos de cinco anos apresentam sinais de atraso no crescimento devido à desnutrição grave e um terço das crianças do país vive em situação de pobreza alimentar – consumindo apenas dois ou menos grupos de alimentos por dia.

A crise económica em curso, observou o representante do OCHA, tem-se refletido nos já elevados preços dos alimentos e de outros produtos essenciais, que duplicaram ainda mais desde o ano passado.

Um relatório recente do Banco Mundial sublinha os efeitos devastadores de anos de conflito no bem-estar das famílias sírias.

A economia – que recuou cerca de 1,2% no ano passado – deverá contrair mais 1,5% este ano.

"A crise económica, juntamente com os impactos contínuos do conflito na Síria e em toda a região, é uma das principais razões pelas quais a Organização para a Alimentação e Agricultura e o Programa Alimentar Mundial identificam a Síria como uma situação de grande preocupação para o agravamento da insegurança alimentar nos próximos cinco meses", disse Rajasingham ao corpo diplomático.

Apesar do elevado nível de necessidades, o apelo humanitário anual da ONU para a Síria está financiado em menos de 13%.

"Este é o nível mais baixo de financiamento de todos os dez dos nossos maiores apelos globais a países", frisou o chefe do OCHA em Genebra.

Embora a ONU e os seus parceiros tenham conseguido, até meio deste ano, prestar assistência crítica a cerca de 2,7 milhões de pessoas em toda a Síria todos os meses, esta é uma redução substancial em relação a 2023.

A prestação de serviços de água potável e de saneamento, por exemplo, foi interrompida em partes do norte do país, aumentando a exposição a riscos para a saúde nos meses quentes de verão.

Os serviços de saúde tiveram de ser reduzidos e dezenas de unidades de saúde correm o risco de encerrar nas próximas semanas, a menos que recebam financiamento adicional, destacou a ONU.

Apesar dos apelos por um maior funcionamento, a ONU alertou hoje que um caminho duradouro para a Síria sair da crise humanitária e rumar ao desenvolvimento depende de uma solução política para o conflito.

"A Síria está numa crise grave e nenhum dos seus inúmeros problemas pode ser resolvido de forma sustentável sem solução política", defendeu, por sua vez, a enviada especial adjunta da ONU para a Síria, Najat Rochdi, apelando à concretização das aspirações do povo sírio e à restauração da soberania, unidade, independência e integridade territorial do país, num processo liderado e controlado pelos sírios e apoiado por intervenientes internacionais.

A guerra na Síria, desencadeada em março de 2011 pela violenta repressão do regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, de manifestações pacíficas, já provocou mais de meio milhão de mortos e obrigou à deslocação de vários milhões de pessoas.

O conflito ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos ‘jihadistas’, e várias frentes de combate.

MAIS NOTÍCIAS