O setor automóvel em Portugal continua sem sentir constrangimentos causados pelo novo coronavírus, mas congratula-se com as medidas de apoio anunciadas hoje pelo Governo, pois está “expectante” com as consequências de um prolongar da situação.
“Neste momento não temos notícia [de constrangimentos à laboração das empresas do setor], mas, a manter-se esta situação, é possível que venha a acontecer, numa ou em outra unidade, uma redução da produção”, afirmou em declarações à agência Lusa o secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), que representa os construtores de automóveis de veículos ligeiros e pesados quer na vertente industrial, quer na vertente comercial.
“Nesse sentido – acrescentou Hélder Barata Pedro - a decisão do Governo de criar medidas como a possibilidade de estabelecer o ‘lay off’ e o apoio na formação dos trabalhadores durante este período é positiva para prevenir uma situação de redução de produção e de necessidade de alguns trabalhadores ficarem inativos, o que é significativo”.
Segundo a ACAP, logo no início da crise do coronavírus, as empresas do setor “começaram a prevenir-se para substituir eventuais peças e componentes que vêm das zonas mais afetadas, como a China ou o norte de Itália”, tendo estado a trabalhar até agora “com esse aprovisionamento”.
“Mas isso não quer dizer que, num futuro próximo, uma unidade ou outra da indústria automóvel não tenha de vir a ter de reduzir a produção e estas medidas que o Governo anunciou hoje são, de facto, importantes”, sustentou.
O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, disse hoje à entrada de uma reunião extraordinária de concertação social, que alguns setores da economia estão já a ter problemas nas suas cadeias de abastecimento, nomeadamente no têxtil, algum setor automóvel, calçado e turismo.
Recordando que a possibilidade de recurso ao ‘lay off’ e os apoios à formação “foram precisamente propostas apresentadas ACAP há cerca de uma semana, numa reunião com o ministro da Economia e outras entidades”, Hélder Pedro considera que, “para já, poderão ser suficientes” para enfrentar a situação.
Tal como os construtores automóveis, também os fabricantes de componentes para o setor automóvel dizem que “a situação, por enquanto, está controlada”, não se registando constrangimentos à laboração das empresas.
“As empresas têm os seus ‘stocks’ mais ou menos controlados e os componentes que vêm da China e da Itália [dois dos países mais afetados pela epidemia do Covid-19] não são assim muitos. Os componentes vêm sobretudo de Espanha, da Alemanha e de França, que são os nossos principais parceiros quer a nível de importações, quer de exportações”, esclareceu à Lusa o secretário-geral da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA).
Ainda assim, Adão Ferreira admite que, “se os clientes em Espanha ou na Alemanha começarem a ser afetados, mais cedo ou mais tarde Portugal irá ser também, no tal efeito dominó de que se fala”.
“A situação por enquanto está controlada. Vamos é ver até quando se vai manter assim, porque é natural que, se isto continuar, comece a haver algum problema. As empresas estão expectantes, a avaliar a situação, e o que estão a fazer é restringir as viagens aos clientes e aos fornecedores, fazendo reuniões por áudio e vídeo conferência. Por enquanto a situação está a ser controlada assim, vamos ver até quando é que isto é viável”, sustentou.
O Governo anunciou hoje um regime de 'lay-off' simplificado para as empresas que vejam a sua atividade "severamente afetada devido à epidemia", por via do qual os trabalhadores terão a garantia de retribuições ilíquidas equivalentes a dois terços do salário até 1.905 euros, 30% suportado pelo empregador e 70% pela Segurança Social até um máximo de seis meses.
Esta medida, assim como a duplicação de 100 para 200 milhões de euros da linha de crédito para apoio à tesouraria das empresas, foram algumas das medidas apresentadas aos parceiros sociais para minimizar o impacto do novo coronavírus.
O executivo decidiu ainda que o pagamento dos incentivos no quadro do Portugal 2020 será efetuado no mais curto espaço de tempo possível, a título de adiantamento, se tal se mostrar necessário, uma moratória de 12 meses na amortização de subsídios reembolsáveis no quadro do QREN e do PT2020, que se vençam até 30 de setembro de 2020.
A epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 3.800 mortos.
Cerca de 110 mil pessoas foram infetadas em mais de uma centena de países, e mais de 62 mil recuperaram.
Nos últimos dias, Itália tornou-se o caso mais grave de epidemia fora da China, com 366 mortos e mais de 7.300 contaminados pelo novo coronavírus, que pode causar infeções respiratórias como pneumonia.
Para tentar travar a epidemia, o Governo de Roma colocou cerca de 16 milhões de pessoas em quarentena no Norte do país, afetando cidades como Milão, Veneza ou Parma.
Portugal regista 30 casos confirmados de infeção, segundo o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde (DGS), divulgado no domingo. Todos os infetados, 18 homens e 12 mulheres, estão hospitalizados.
A DGS comunicou também que 447 pessoas estão sob vigilância por contactos com infetados.