O Ministério da Saúde de Gaza apelou hoje à criação de hospitais cirúrgicos de campanha, com capacidade para 200 camas, para compensar a falta de acesso a cuidados médicos de mais de 600 mil habitantes do norte de Gaza.
“Precisamos de hospitais cirúrgicos de campanha com capacidade para 200 camas e que incluam salas de operações, cuidados intensivos, laboratórios e serviços de diagnóstico para satisfazer as necessidades da população do norte de Gaza”, exigiu hoje o porta-voz do ministério, Ashraf al-Qudra, em comunicado.
O Ministério da Saúde de Gaza é controlado pelo movimento islamita palestiniano Hamas que está em guerra com Telavive desde que atacou o território israelita, em 07 de outubro de 2023.
As cerca de 600 mil pessoas mencionadas constituem a população remanescente nas cidades do norte de Gaza Jabalia e Beit Hanun, onde, segundo o comunicado, o cerco e destruição do maior complexo hospitalar do território, o Al-Shifa, pelas tropas israelitas provocou quase 400 mortos.
Foi “um golpe devastador”, admitiu o ministério do enclave palestiniano, controlado pelo Hamas desde 2007.
O porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmoud Basal, informou que pelo menos 381 corpos foram recuperados na área ao redor do Al-Shifa, sem contar com os cadáveres enterrados no complexo hospitalar. Alguns dos corpos estavam completamente desfigurados e não identificáveis.
“A ocupação [do exército israelita] cometeu deliberadamente massacres brutais e realizou execuções diretas de pessoal médico e pacientes no complexo Al-Shifa e em outros centros médicos no norte de Gaza”, acusou Ashraf al-Qudra.
O exército israelita invadiu este complexo hospitalar quatro vezes durante a guerra, que dura há cerca de seis meses, alegando que o Al-Shifa estava a ser utilizado para fins militares por membros do braço armado do Hamas e da ‘Jihad’ Islâmica Palestiniana.
“Perdemos o pessoal médico especializado que constituía a espinha dorsal dos serviços médicos do Al-Shifa, que passavam por análises de amostras de tumores, transplantes renais e outros problemas médicos”, referiu o mesmo comunicado.
De acordo com os últimos dados da UNRWA (a agência da ONU para os refugiados palestinianos), de um total de 36 centros hospitalares existentes na Faixa de Gaza, apenas 11 estão parcialmente a funcionar, com poucos recursos, pouco pessoal médico e sob a ameaça de incessantes bombardeamentos israelitas.
Israel, por seu lado, afirma estar a negociar com outros países a criação de novos hospitais de campanha em toda a Faixa de Gaza.
O conflito em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeado pelo ataque de outubro de 2023, que provocou a morte de cerca de 1.200 israelitas, a maioria dos quais civis, e levou ao sequestro de cerca de 240 civis, dos quais mais de 100 permanecem como reféns em Gaza.
Israel, que prometeu destruir o movimento islamita palestiniano, tem bombardeado a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas mais de 33.000 pessoas, a maioria das quais eram também civis.
A ofensiva israelita também tem destruído a maioria das infraestruturas de Gaza e perto de dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas, a quase totalidade dos 2,3 milhões de habitantes do enclave.
A população da Faixa de Gaza também se confronta com uma crise humanitária sem precedentes, devido ao colapso dos hospitais, o surto de epidemias e escassez de água potável, alimentos, medicamentos e eletricidade.