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ONG venezuelana SenosAyuda quer sensibilizar luso-venezuelanas para prevenir cancro da mama

Lusa
16-10-2023 06:00h

A ONG SenosAyuda apelou à comunidade portuguesa radicada na Venezuela que se junte à campanha de prevenção do cancro de mama, num país onde nove mulheres morrem diariamente por falta de um diagnóstico atempado.

“Apelamos a todas as organizações portuguesas a que se juntem à nossa luta contra o cancro da mama. Todos os dias chegam mais e mais mulheres à procura de apoio, de uma mão amiga e de um diagnóstico precoce, mas também precisam urgentemente de apoio solidário nos cuidados de saúde”, disse a diretora da organização à Lusa.

Carolina Fernández Henríquez sublinhou que “infelizmente, não há um Estado que responda, por isso as mulheres que chegam têm que fazer uma radioterapia que não podem pagar, e o que fazem é chorar”, com medo de morrerem e a SenosAyuda une forças e solidariedade “para dar oportunidades a estas mulheres”.

“Estamos aqui também para a comunidade portuguesa residente na Venezuela que necessita de apoio (…) esta é uma organização aberta a todas as mulheres e homens do país. É importante que todas as mulheres da comunidade portuguesa, especialmente as mais velhas, que têm vergonha, que não querem mostrar os seios, que se lembrem que temos de cuidar de nós próprias, que todas são importantes, que as queremos vivas, que queremos celebrar a vida convosco, que vejam os vossos netos crescer e por isso precisamos que realizem um controlo (médico)”, disse.

Por outro lado, explicou que organização foi fundada há 24 anos por Bolívia Bocaranda, a quem diagnosticaram um cancro de mama, depois de viajar para o estrangeiro onde percebeu “que o mundo estava sensibilizado com esta causa, mas que na Venezuela ninguém fazia um trabalho de sensibilização e educação”.

“Dezassete anos depois somos uma organização líder não apenas na educação, na sensibilização e promoção da deteção atempada, mas converteu-se na organização encarregada de apoiar quem tem cancro da mama e garantir o acesso a cuidados de saúde a preços solidários”, disse.

Frisou ainda que a SenosAyuda “não é o Estado, nem pode substituir o trabalho do Estado” e que entre janeiro e agosto de 2023 ajudou mais de 3.000 mulheres com mamografias e ecografias, e outros exames relacionados com o cancro.

“Adicionalmente, estamos ajudando com preços solidários e empréstimos (…) é muito difícil aceder ao tratamento por causa dos custos, por isso temos uma enorme rede de solidariedade, composta por profissionais de saúde, centros de saúde e centros de tratamento que se juntaram a nós para dar resposta às mulheres mais vulneráveis”, disse.

A responsável lembrou que o cancro de mama é a primeira causa de morte oncológica no mundo, e que no caso da Venezuela “os casos de morte são mais de 30% mais que os outros países da região”, porque as mulheres não têm acesso a serviços e cuidados médicos especializados a preços solidários.

Carolina Fernández Henríquez disse que faltam dados oficiais, mas que projeções de um relatório da Sociedade Anticancro dão conta de que na Venezuela há mais de 20 deteções por dia.

“Estamos a falar de nove mulheres que morrem todos os dias de cancro da mama”, disse, alertando que é uma doença que em cada 100 casos afeta cinco homens de mais de 60 anos, cujo diagnóstico ocorre em idade avançada, porque “os homens não vigiam os seus seios”.

O médico Jhonny Mujica explicou à Lusa que “na Venezuela, o cancro da mama é o cancro mais frequente nas mulheres e é também a primeira causa de mortalidade” e que “a grande maioria da população não tem acesso a exames, principalmente à mamografia, que é o padrão de ouro para a deteção precoce”.

Disse ainda que as mulheres têm medo porque acreditam que o diagnóstico de cancro é uma sentença de morte, quando se for detetado a tempo pode ser superado. Também que há mulheres com medo de que a biópsia produza dor ou que o cancro avance depois do exame.

“As mulheres das classes sociais mais baixas têm menos acesso a testes de diagnóstico e a tratamentos, por isso, o prognóstico é geralmente pior e a mortalidade tende a ser mais elevada”, disse.

Na consulta esteve, pela terceira vez, a doméstica Sabina Martínez, à procura de ajuda por ter “baixos recursos económicos”.

“Vim recolher o exame que fiz há 15 dias”, disse, referindo que o médico confirmou que tem “um tumor maligno” e referiu que “foi a primeira vez que fez uma mamografia”.

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