Os serviços de saúde decorrem com “certa lentidão” no Hospital Central da Beira (HCB), o principal no centro de Moçambique, apesar de alguns médicos grevistas terem regressado ao trabalho, avançou hoje fonte oficial.
“Os serviços estão a decorrer com certa lentidão porque os médicos que se encontram a trabalhar devem fazer atendimentos, quer nas enfermarias, quer nas consultas externas e os mesmos têm, por vezes, de ir operar”, disse Ana Tambo, diretora clínica do HCB, em declarações à comunicação social na cidade da Beira, província de Sofala.
Um total de 42 médicos dos 182 afetos ao HCB, entre os quais 52 estrangeiros, aderiram à greve nacional da classe, que arrancou a 10 de julho, inicialmente de 21 dias.
Na sexta-feira, os médicos decidiram em assembleia geral prorrogar a greve por mais 21 dias, enquanto o executivo moçambicano afirmou na terça-feira que os profissionais que faltarem ao trabalho devido à paralisação serão responsabilizados.
Segundo a diretora clínica do Hospital Central da Beira, pelo menos quatro médicos que estavam em greve regressaram ao hospital, mas ainda assim os profissionais daquela unidade de saúde de referência no centro de Moçambique continuam sobrecarregados.
“Estamos a apelar a todos que tiverem problemas de saúde para que se dirijam a unidade sanitária para atendimento”, pediu a diretora clínica, que assinala que a população está a ter medo de "se fazer" ao hospital devido à greve.
Paula Samo é uma das pacientes que também estava com receio de ir ao hospital devido à greve, mas diz ter sido bem atendida, apesar da lentidão.
“Tinha consulta com um médico e fui atendida, mas quando vinha ao HCB estava receosa porque pensei que não fosse encontrar um profissional”, disse à Lusa a paciente.
Apesar do impacto na qualidade de atendimento no Hospital Central da Beira, a diretora clínica disse que a situação está controlada e que o hospital continua a organizar-se de modo a que “os trabalhos decorram sem sobressaltos”.
“Estamos estáveis por enquanto, não há necessidade de reforço”, avançou a responsável, numa altura em que alguns hospitais do país têm contado com a ajuda de médicos militares e de alguns afetos a cargos de direção.
Em causa está a greve nacional em protesto sobretudo contra cortes salariais e falta de pagamento de horas extraordinárias, no âmbito da aplicação da nova tabela salarial da função pública.
O Ministério da Saúde (Misau) afirmou ter resolvido os problemas de redução e falta de pagamento de salários, sem observar o tempo de serviço e enquadramento inferior ao acordado, estes dois últimos pontos que constam ainda das queixas apresentadas pelos médicos.
A Associação Médica de Moçambique refere que, durante o processo negocial com o Governo, os profissionais cederam em alguns pontos do caderno reivindicativo, como no caso da redução do subsídio de exclusividade, que passou de 40 para 5%, do subsídio de risco de 30 para 5%, e do subsídio de turno, que caiu de 30% para 5%.
A aplicação da nova tabela salarial na função pública está a ser alvo de forte contestação por parte de várias classes profissionais, com destaque para os médicos, juízes e professores.