O diretor-geral de Epidemiologia e Segurança Sanitária da Guiné-Bissau, Salomão Crima, disse hoje à Lusa que os passageiros que chegam ao aeroporto de Bissau continuam a ser monitorizados sobre eventuais sintomas do novo coronavírus.
O primeiro-ministro Aristides Gomes admitiu, no domingo, através da rede social Facebook, estar em risco o seguimento diário de viajantes que chegam à Guiné-Bissau, devido à ação das Forças Armadas.
"Um grupo de militares acabou de entrar no Ministério da Saúde Pública e forçou a equipa da Direção-Geral de Epidemiologia e Segurança Sanitária, que estava a trabalhar sobre a epidemia de coronavírus, a abandonar as instalações do ministério", lê-se na publicação.
Instado pela Lusa a fazer o ponto de situação sobre a vigilância da doença na Guiné-Bissau, Salomão Crima disse que a equipa de monitorização no aeroporto continuou com a sua ação.
"Nunca parámos. Temos sempre uma equipa de pelo menos quatro técnicos em todos os voos que cheguem no aeroporto [Osvaldo Vieira]”, declarou Crima.
O diretor-geral de Epidemiologia e Segurança Sanitária precisou que soldados ocuparam as instalações do Ministério da Saúde Pública, em Bissau, levando a que alguns técnicos da equipa de vigilância do novo coronavírus não se sentissem à vontade.
"Abandonámos o local, mas continuámos com os nossos trabalhos noutro lugar, sem nunca sairmos do aeroporto", observou Salomão Crima.
A Lusa constatou esta tarde que quatro soldados armados se encontravam nas portas do Ministério da Saúde, sem qualquer funcionário lá dentro.
A Guiné-Bissau vive um novo momento de tensão política, depois de o autoproclamado Presidente Umaro Sissoco Embaló ter demitido Aristides Gomes do cargo de primeiro-ministro e nomeado Nuno Nabian.
Após estas decisões, registaram-se movimentações militares, com ocupação de várias instituições de Estado, incluindo a rádio e a televisão públicas, de onde os funcionários foram retirados e cujas emissões foram suspensas.
A Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) voltou a ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida na Guiné-Bissau e acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos.
Apesar de ter primeiro reconhecido Umaro Sissoco Embaló como vencedor das presidenciais, a CEDEAO condena agora todas as ações tomadas "contrárias aos valores e princípios democráticos" e que atentam contra a ordem constitucional estabelecida e "expõem os seus autores a sanções".
A CEDEAO reiterou a "necessidade absoluta" de se esperar pelo fim do processo eleitoral e que vai ajudar a que sejam tomadas iniciativas para que seja posto um fim ao impasse pós-eleitoral.
O presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, que tinha tomado posse na sexta-feira como Presidente interino, com base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do Estado tome posse em caso de vacatura na chefia do Estado, renunciou no domingo ao cargo por razões de segurança, referindo que recebeu ameaças de morte.
Já Aristides Gomes denunciou que um grupo de militares invadiu a sua residência, retirando as viaturas da sua escolta pessoal e proferindo ameaças.
Umaro Sissoco Embaló afirmou que não há nenhum golpe de Estado em curso no país e que não foi imposta nenhuma restrição aos direitos e liberdades dos cidadãos.
O surto de Covid-19, que pode causar infeções respiratórias como pneumonia, provocou mais de 3.100 mortos e infetou mais de 90.300 pessoas em cerca de 70 países e territórios, incluindo duas em Portugal.
Das pessoas infetadas, cerca de 48 mil recuperaram, segundo autoridades de saúde de vários países.
Além de 2.943 mortos na China, onde o surto foi detetado em dezembro, há registo de vítimas mortais no Irão, Itália, Coreia do Sul, Japão, França, Hong Kong, Taiwan, Austrália, Tailândia, Estados Unidos da América, San Marino e Filipinas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o surto de Covid-19 como uma emergência de saúde pública internacional de risco “muito elevado”.