A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) está a investigar a relação entre problemas no canal cárpico e a amiloidose cardíaca de modo a antecipar o diagnósticos e a definir orientações sobre exames cardíacos, foi hoje divulgado.
Em comunicado enviado à agência Lusa, a FMUP revela que um grupo de investigadores está a tentar perceber o que tem a ver a amiloidose cardíaca com a síndrome do canal cárpico.
A amiloidose cardíaca é uma doença do coração considerada rara.
Já a síndrome do canal cárpico é um problema comum que afeta um nervo a nível do punho.
“Muitos dos doentes com amiloidose cardíaca das nossas consultas referem, no seu historial, uma cirurgia prévia ao canal cárpico. Este pode ser um fator de risco. Neste estudo, estamos a tentar antecipar o diagnóstico o mais precocemente possível, na altura em que são operados, realizando uma avaliação cardíaca e percebendo se os doentes já têm ou não amiloidose”, explica a investigadora Elisabete Martins, citada no comunicado da FMUP.
Com o nome ‘Systemic Transthyretin Amiloydosis: Carpal Tunnel Syndrome in a Portuguese population (CarPoS)’ – que em português significa ‘Amiloidose sistémica por transtirretina: síndrome do túnel do carpo numa população portuguesa’ – este estudo visa o rastreio de amiloidose cardíaca em doentes que são submetidos a cirurgia da síndrome do canal cárpico de causa desconhecida.
De acordo com a FMUP, “o objetivo é identificar os doentes operados ao canal cárpico que já têm amiloidose cardíaca, embora possam não ter ainda sintomas cardíacos”.
Elisabete Martins adianta que os resultados preliminares indicam que alguns doentes submetidos a uma cirurgia do canal cárpico já têm amiloidose.
“Estes primeiros resultados vêm corroborar os achados da clínica dos cardiologistas e de estudos recentes”, lê-se no resumo sobre o estudo.
Também associada ao envelhecimento, esta doença rara ocorre quando algumas proteínas se depositam no coração, contribuindo para a “rigidez” do músculo cardíaco e para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
“A transtirretina é uma dessas proteínas em circulação no nosso organismo que, por motivos que não conhecemos na totalidade, começa a depositar-se no miocárdio. Atualmente temos novos métodos de diagnóstico, particularmente de imagem de medicina nuclear, que marcam a presença de amiloidose por transtirretina a nível cardíaco”, explica a investigadora e professora da FMUP.
Os investigadores querem, agora, perceber se há vantagem em fazer uma biópsia da sinovial ou exames cardíacos, numa fase precoce, tendo em conta que já existe tratamento.
O estudo, que envolve várias especialidades, vai prosseguir nos próximos meses, com cerca de 100 pessoas com idade igual ou superior a 60 anos e indicação para cirurgia da mão.
Liderado pela FMUP, este estudo conta com a colaboração do Centro Hospitalar Universitário de São João, do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) e da Rede de Investigação em Saúde (RISE).