Em causa está a anunciada criação da ULS de Aveiro, a cerca de 40 quilómetros do centro de Ovar, e da ULS do Entre Douro e Vouga, que, sediada em Santa Maria da Feira, dista do território vareiro apenas entre cinco a 20 quilómetros – sendo que ambas as estruturas serão compostas por hospitais e agrupamentos de centros de saúde, prestando cuidados às populações de determinadas áreas de influência.

O presidente da concelhia do PS, Emanuel Oliveira, reuniu-se esta quarta-feira com o diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde para análise da situação e diz-se preocupado “com uma eventual integração de Ovar na ULS Aveiro, por se tratar de uma opção geograficamente desajustada, inadequada e absurda”.

O líder dos socialistas de Ovar defende que os utentes do concelho devem ser afetos à ULS do Entre Douro e Vouga, “em linha de continuidade com compromissos e práticas assumidos”, e afirma que a opção pela ULS de Aveiro se revelará “contrária a tudo o que foi protocolado na defesa dos interesses da população do concelho de Ovar”.

Para Emanuel Oliveira, impõe-se, por isso, que “os decisores políticos locais respeitem os legítimos interesses das comunidades de Esmoriz, Cortegaça, Maceda, Arada, São João de Ovar, Ovar, Válega e São Vicente de Pereira”.

O presidente do PS de Ovar não refere nenhum autarca em concreto, mas Hugo Oliveira, que participou na mesma reunião enquanto vice-presidente da Federação de Aveiro do PS e deputado na Assembleia, é mais específico: “Muito nos surpreende que Salvador Malheiro, presidente da Câmara de Ovar, tenha recomendado ao SNS que os seus munícipes fiquem associados a ULS de Aveiro”.

Para o vice da distrital socialista, há mais aspetos além da distância geográfica a demonstrar que a opção pela ULS a instalar em Santa Maria da Feira será a mais adequada e o principal é que “15% da produção do Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga diz respeito a utentes de Ovar, enquanto no Hospital de Aveiro essa população não chega a representar sequer 0,5%”.

Hugo Oliveira reconhece que, nos moldes atuais, “há liberdade de escolha geográfica” para o utente que procura atendimento no SNS, mas realça que, se esse livre arbítrio vier a alterar-se no futuro devido a nova legislação, é preciso acautelar antecipadamente que os cidadãos de Ovar fiquem abrigados a usar os serviços “mais próximos, mais convenientes e com os quais já têm ligação”.

Insistindo que “Salvador Malheiro não está a zelar pelos seus munícipes”, o deputado e vice-presidente da distrital do PS rejeita ainda o “argumento frágil” de que a adesão à ULS de Aveiro se deva ao facto de Ovar integrar a Comunidade Intermunicipal da Ria de Aveiro e dever acompanhar os restantes concelhos desse território numa escolha comum.

“Santa Maria da Feira também integra a Área Metropolitana do Porto, mas vai criar a sua ULS apenas com alguns concelhos porque toma decisões com base no interesse dos seus munícipes e não nos dos outros. O mesmo acontece com Castelo de Paiva, que também integra a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, mas decidiu que uma parte do seu território vai ficar afeta à ULS do Entre Douro e Vouga porque essa parcela da população já era seguida no Hospital São Sebastião [do Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga]”, explica.

Concluindo que “é a posição de Salvador Malheiro que tem levado a este atraso” na criação das ULS do distrito, Hugo Oliveira aguarda agora o parecer técnico e definitivo do SNS, cujo diretor-executivo, segundo os socialistas presentes na reunião de terça-feira, terá demonstrado “abertura para refletir sobre o cenário que mais se adequa e melhor serve a população do concelho de Ovar”.

Questionado pela Lusa sobre esta matéria, o social-democrata Salvador Malheiro declarou, via fonte da autarquia, que a acusação do PS é “completamente falsa”.

“O presidente da Câmara tomou conhecimento oficial da constituição de um grupo de trabalho para avaliar a integração do Hospital Francisco Zagalo e da Rede de Cuidados Primários de Ovar numa futura ULS a constituir em torno do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, no passado dia 09, por ofício recebido do diretor-executivo do SNS”, adianta fonte da Câmara.

A mesma fonte adianta que, “até ao momento, a autarquia não tomou qualquer posição sobre o assunto, até porque o que está para já em causa é a constituição de um grupo de trabalho para a elaboração de um plano de negócios que avalie esta possibilidade – à semelhança do que já aconteceu em 2017 para a ULS Entre Douro e Vouga”.

Salvador Malheiro terá ainda referido ao diretor do SNS “que a autarquia estará sempre do lado das soluções em que os superiores interesses do munícipes sejam salvaguardados” e insistido na “necessidade imperativa da abertura do Serviço de Urgência Básica do Hospital de Ovar, que em qualquer modelo será sempre exigido”.