O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças defendeu hoje que um eventual controlo de fronteiras na União Europeia (UE) devido ao novo coronavírus “não é eficaz nem recomendável”, mas admitiu uma “distribuição ampla do contágio”.
“Essa medida não entra nas considerações que fazemos porque, por um lado, consideramos que não é efetiva e, por outro, porque contraria os princípios da UE, como a [livre] circulação e o intercâmbio entre países”, afirmou em entrevista à agência Lusa o especialista principal do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, sigla inglesa) em operações de emergência e resposta, Josep Jansa.
De acordo com este especialista, “não é eficaz, nem recomendável” passar a controlar as fronteiras na UE, além de que isso, a seu ver, “não ajudaria a resolver o problema”.
“Atualmente, o vírus já está a circular e quando já existe uma situação de distribuição da doença […] e, a cada dia, se verificam novos países a detetar casos, não se pode conter um vírus através do controlo de fronteiras”, argumentou Josep Jansa.
O especialista recordou que “já se tentou implementar este mecanismo na China” – desde logo por este ser “um país que, pelas suas características sociais e políticas pode fazê-lo até certo ponto” –, mas nem essa “medida drástica” evitou “casos em todo o mundo, em todos os continentes”.
Falando especificamente sobre a situação no continente europeu, Josep Jansa assinalou que “o vírus já está em vários países e agora, […] a cada dia, há mais países com casos detetados”, apesar de Itália ser o país mais afetado.
Segundo o responsável, registou-se nos últimos dias “uma mudança” na forma como estes casos chegam à Europa: se inicialmente “a maioria de casos tinha relação com alguém” que havia estado na China, Coreia do Sul, Irão, Japão e Singapura, as zonas mais afetadas, hoje já começam a surgir no espaço comunitário sem aparente ligação.
“Cada vez estamos a mover-nos mais para uma situação de distribuição ampla do contágio [na Europa”, antecipou Josep Jansa.
O especialista ressalvou que a Europa ainda não está nesse ponto, já que “o número de casos identificados nos países continua a ser limitado”, mas destacou que “a probabilidade de haver cada vez mais países afetados está a aumentar”.
Também por essa razão, o ECDC atualizou a sua avaliação de risco sobre o contágio no espaço comunitário, que é de moderado a elevado, dado “já ser mais provável que se verifiquem casos na maioria do continente”, referiu o responsável.
Afastando qualquer tipo de alarmismo e comparando este surto com o da gripe tradicional, o especialista exortou as autoridades de saúde a preparem-se para a propagação.
“Estamos já numa situação de pandemia, ainda que a Organização Mundial de Saúde não a tenha declarado oficialmente, porque o vírus está presente em todo o mundo”, considerou Josep Jansa à Lusa.
Sediado em Estocolmo, na Suécia, o ECDC é um dos principais organismos europeus a acompanhar o novo coronavírus.
Números hoje divulgados pelo ECDC referem que, até esta manhã, havia 82.132 casos em todo o mundo de Covid-19, que já resultaram em 2.801 mortes.
Na Europa existem, atualmente, 477 casos, 400 dos quais em Itália, 21 na Alemanha, 17 em França, 13 no Reino Unido, 12 em Espanha, a Áustria, Croácia, Finlândia, Suécia registaram dois casos cada um, e a Bélgica, Dinamarca, Grécia, Noruega, Roménia e Suíça confirmaram um caso cada.
Ainda na Europa, registaram-se até ao momento 14 mortes, todas em Itália.