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Covid-19: Infectologista brasileiro diz que país está preparado para o vírus

LUSA
27-02-2020 00:26h

O médico infectologista brasileiro David Urbaez disse na quarta-feira, em entrevista à Lusa, que o país está preparado para enfrentar o coronavírus Covid-19, apesar de identificar precariedades no sistema de saúde.

No dia em que o Brasil confirmou o seu primeiro caso positivo de contágio pelo coronavírus Covid-19, David Urbaez frisou que o país sul-americano já atravessou uma série de epidemias graves, que lhe conferiu experiência nesse combate.

"O Brasil tem um conhecimento em epidemia de se 'tirar o chapéu'. Já passámos por muitas epidemias seríssimas, como de meningite, H1N1 [gripe A], Dengue, Zika. Há, dentro do país, todo um saber historicamente construído para dar essa resposta. Temos redes laboratoriais e, além disso, temos um Sistema Único de Saúde [SUS], que é uma rede com muita capilaridade e que abrange o país inteiro", indicou o especialista.

"O facto de termos esse SUS garante todo um perfil de resposta adequada, apesar de, obviamente, termos precariedades na infraestrutura em muitos lugares. Temos falta de recursos humanos em muito locais, mas em casos de epidemias o Brasil faz sempre o dever de casa e contrata mais pessoal, por exemplo. Na conjuntura, o Brasil sempre se adequa àquilo que deve ser feito", sublinhou à Lusa o médico.

David Urbaez realçou ainda que logo que a China notificou os primeiros casos do novo coronavírus no país, o Brasil começou imediatamente a discutir o assunto, traçando planos de contingência em todos os hospitais, assim como a preparação de laboratórios para diagnóstico.

"Sem dúvida que estamos preparados para responder a mais este desafio", afirmou.

O Governo brasileiro confirmou na manhã de quarta-feira o primeiro caso positivo de contágio pelo Covid-19, um homem de 61 anos, residente em São Paulo, que regressou recentemente de Lombardia, no norte de Itália, uma das regiões deste país com um surto da epidemia mais ativo.

O ministro da Saúde brasileiro, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o paciente infetado ficou em Itália de 09 a 21 deste mês, e regressou ao Brasil sem sintomas. Contudo, no domingo, após uma reunião familiar, o homem apresentou sintomas considerados ligeiros, tendo-se deslocado ao hospital, onde lhe foi confirmado, horas depois, a infeção.

Segundo o Governo do Brasil, o cidadão infetado ficará em isolamento domiciliário durante 14 dias.

Questionado acerca do protocolo adotado de isolamento domiciliário, o infectologista David Urbaez afirmou que essa foi a melhor opção tomada, por considerar que hospitais e unidades de saúde "tornam-se ninhos de transmissão".

"A experiência que se tem com outros coronavírus, e com esse na China, é que os hospitais e estabelecimentos de saúde tornam-se ninhos de transmissão. Neles existem todas as condições de promover a transmissão porque são deixadas lá quantidades muito grandes de pessoas infetadas, que vão gerar secreções respiratórias de maneira abundante, num local muito pequeno. Então, existirá aí um ambiente muito propício para a transmissão", argumentou.

"Por fim, os hospitais, têm ainda a mão de obra que trabalha com o vírus, que somos nós, os profissionais de saúde. Corremos o risco de ser também atingidos, o que pode levar à diminuição do número de pessoal médico", acrescentou.

O médico, que é também consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, advogou que em outros vírus, como a Síndrome Respiratória Aguda Severa (SRAS), mais de 50% dos casos foram transmitidos em ambientes hospitalares.

"Em regra, para infeções respiratórias, se o indivíduo não tem nenhum sinal de gravidade, o melhor é ficar mesmo no seu domicílio e fazer lá o período de isolamento. Deve ainda intensificar a higiene das mãos, usar sempre o antebraço ou lenço em caso de espirro ou tosse, e depois descartá-lo imediatamente", aconselhou.

O Brasil é o primeiro país da América Latina, e segundo país do Hemisfério Sul, depois da Argélia, a confirmar o primeiro caso do Covid-19, segundo o ministro Henrique Mandetta.

Para David Urbaez há diversos fatores que podem levar à diminuição da propagação deste vírus em clima tropical, como é o caso do Brasil, que tem uma média de temperatura ambiental muito mais elevada em relação ao Hemisfério Norte, ou luz solar mais presente.

"O número de pessoas que se aglomera sem ventilação nos trópicos é bem menor do que durante o inverno nos países europeus e asiáticos, que têm estações do ano mais marcadas. Inclusive, na própria Europa, acredita-se que haverá um arrefecimento dessa transmissão do vírus assim que a primavera se adentre e as temperaturas comecem a aumentar", disse.

Contudo, o médico frisou que tudo não passam de hipóteses, dando o exemplo da infeção viral aguda do sistema respiratório Influenza, que “há poucos anos teve situações epidémicas muito intensas no município brasileiro de Manaus" que, apesar de ser uma região extremamente tropical, com altas temperaturas o ano todo, e com chuva, foi fortemente atingida pelo vírus.

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