A ministra ucraniana da Saúde decidiu juntar-se às pessoas em quarentena retiradas da China devido ao novo coronavírus, após a sua chegada à Ucrânia ter originado pânico e violências na localidade indicada para os acolher.
“Repetimos sem interrupção, que a Ucrânia é a Europa”, afirmou hoje o Presidente Volodymyr Zelensky, que denunciou os incidentes. “Ontem [quinta-feira], por momentos, infelizmente perecia que estávamos na Europa da Idade Média”.
Os habitantes de Novi Sanjary entraram [quinta-feira] em confronto com forças policiais após se oporem à chegada a um hospital militar desta localidade do centro da Ucrânia de 45 ucranianos e 27 estrangeiros, na maioria naturais da América Latina.
“Decidi juntar-me às pessoas em observação. Vou passar com eles os próximos 14 dias, no mesmo edifício e nas mesmas condições. Espero que a minha presença acalme [os habitantes] de Novi Sanjary e o resto do país”, explicou a ministra Zoriana Skaletska em mensagem no Facebook na noite de quinta-feira para hoje.
Hoje, o diretor do hospital indicou que a ministra abandonou as instalações, mas assegurou o seu regresso. O serviço de imprensa do ministério garantiu por sua vez que a responsável “não abandonou o recinto do hospital”.
Centenas de polícias de choque, transportados em veículos blindados, foram enviados na quinta-feira para Novi Sanjary com o objetivo de enfrentar os protestos.
No final da tarde, repeliram os manifestantes para desimpedir o caminho de acesso ao hospital. Sob proteção policial, os autocarros que transportavam os viajantes, alguns com os vidros partidos devido ao arremesso de pedras, conseguiram entrar no recinto do centro médico.
Nas redes sociais, numerosos ucranianos expressaram a sua indignação face à violência e o apoio às pessoas internadas, com alguns populares a compareceram nas instalações hospitalares com fruta e outros alimentos.
Nove polícias e um habitante local ficaram feridos nos confrontos, indicou uma porta-voz policial, e cinco agentes ainda se encontravam hoje no hospital. A mesma responsável referiu-se à detenção de 24 pessoas.
O ministério do Interior indicou ter reforçado a segurança desta localidade de 10.000 habitantes, e precisou que 400 polícias patrulhavam a zona em redor do hospital, apesar de um aparente regresso à calma.
A polícia indicou que foram abertos dois processos penais contra X por “tumultos massivos” e “ameaça ou violências contra as forças da ordem”.
Os cidadãos ucranianos e latino-americanos embarcaram em Wuhan, a metrópole chinesa e epicentro da epidemia do novo coronavírus Covid-19. O avião que os transportou aterrou em Kharkiv, uma das cidades mais próximas de Novi Sanjary. O ministério da Saúde tinha previamente assegurado que não foram admitidas a bordo pessoas com sintomas da doença.
Até ao momento não foi detetado nenhum caso de coronavírus na Ucrânia, situada entre a Rússia e a União Europeia, mas o seu sistema de saúde, muito degradado, poderá estar mal preparado para combater a nova infeção, suscitando receios entre a população.
Diversas localidades ucranianas no oeste do país também registaram ações de protesto após as autoridades anunciaram ter selecionado quatro locais de acolhimento, mas sem revelarem o local.
Zelensky considerou hoje que algumas destas manifestações tiveram um caráter “político”, enquanto o seu primeiro-ministro admitiu novas “provocações” relacionadas com o coronavírus e destinadas a “semear o pânico” no país.
O novo coronavírus detetado no final de dezembro na China já infetou mais de 76 mil pessoas e provocou a morte a pelo menos 2.247.