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Covid-19: Sem casos confirmados, 'fake news' alastram no Brasil

LUSA
21-02-2020 10:35h

O Brasil ainda não registou nenhum caso de coravírus Covid-19, mas as autoridades já estão preocupadas e começaram a atuar para combater notícias falsas sobre a doença compartilhadas pela população em aplicações e redes sociais.

Receitas de chá de hortelã com abacaxi, de chás e compostos imunológicos com vitamina C - falsamente apontados como remédios eficazes para prevenir o Covid-19 -, indicações do uso de cocaína para matar o vírus, teorias conspiratórias que culpam o fundador do Microsoft, Bill Gates, de financiar o desenvolvimento do vírus, boatos que dizem que a doença é uma arma biológica e até imagens de chineses a comer sopa de morcego, animais que deram origem à epidemia, são algumas das notícias falsas que se espalharam no país.

Os boatos levaram o Governo brasileiro a divulgar um serviço de verificação de informações sobre a doença na página do Ministério da Saúde.

A desinformação também motivou a Fundação Osvaldo Cruz, instituição de referência em pesquisa e saúde pública do país, a criar uma aplicação chamada “Eu Fiscalizo” para receber denúncias de mentiras relacionadas ao Covid-19.

Gabriel Trova, infetologista do Hospital 9 de Julho, considerou que as autoridades e instituições devem divulgar informações educativas sobre a doença para a população, incluindo o combate às ‘fake news’, para evitar riscos e a sobrecarga do sistema de saúde.

“Trabalhar com educação em saúde é uma coisa muito importante porque se há uma preocupação reduzida em relação a isto [doenças como coronavírus] você expõe as pessoas que podem estar em risco, que são mais vulneráveis. O contrário também é verdade, se há histeria, má informação e disseminação de informações falsas, isto pode gerar uma procura desnecessária dos serviços de saúde, o que prejudica o atendimento de quem realmente precisa”, explicou Trova.

O infetologista contou que já atendeu pessoas que viajaram para áreas de risco, na Ásia, mas salientou que o hospital onde trabalha e outras unidades médicas do Brasil têm capacidade para fazer diagnósticos sobre infeções virais com rapidez, o que ajuda a descartar suspeitas sem procedência e a conter o medo dos pacientes e da população em geral.

“Nos casos que chegaram até nós, de pessoas com quadro respiratório e que viajaram para áreas de risco, conseguimos fazer o diagnóstico, o teste rápido em uma hora e, por isso, não precisamos caraterizá-los como casos suspeitos de infeção por Covid-19”, contou.

Para Trova, o Governo brasileiro agiu de forma correta nas ações de preparação e monitorização dos casos suspeitos da doença.

“Por enquanto estamos a trabalhar [no Brasil em ações de] sentinela. É importante os serviços estarem habilitados para conseguir fazer o diagnóstico rápido. Os serviços de saúde são muito capilarizados [distribuídos], mas acreditamos que em nível micro [postos de saúde] estamos preparados para fazer o atendimento e diagnóstico correto”, afirmou.

“Em nível médio, os serviços estaduais e federais de saúde estão a fazer o direcionamento dos casos suspeitos. Por enquanto, a estrutura está adequada”, considerou.

Embora faça uma avaliação positiva sobre a preparação do sistema de saúde brasileiro, o infetologista lembrou que como o país não registou nenhum caso do novo coronavírus não houve “um teste real de como esta estrutura irá funcionar”.

Questionado sobre se há risco de contaminação no Carnaval, época do ano que atrai turistas de todo o mundo ao Brasil, incluindo visitantes da China, o especialista considerou que a hipótese de a doença entrar no país e se tornar uma epidemia é baixa.

“Tirando a China e um navio cruzeiro que estava no Japão não ocorreram casos de transmissão descontrolada [do Covid-19] reportados. Os casos reportados na China, fora da província de Hubei, têm caído a cada semana. Especificamente no contexto brasileiro, do Carnaval, acho que é pouco provável que isto aconteça porque a China implantou uma política restritiva de mobilidade”, salientou Trova.

“A preocupação maior acontecerá quando a mobilidade dentro da China for normalizada. Estamos num momento em que os casos estão restritos à China, há casos reportados de viajantes, mas dada a restrição de acesso à China, a chance [hipótese] de o coronavírus chegar ao Brasil como epidemia não são muito grandes”, concluiu o infetologista.

O surto do coronavírus Covid-19 matou 2.236 pessoas na China continental, segundo a Comissão de Saúde da China, tendo morrido ainda três pessoas no Japão, duas na região chinesa de Hong Kong, duas no Irão, uma nas Filipinas, uma em França, uma em Taiwan e uma na Coreia do Sul.

O coronavírus Covid-19 já infetou mais de 75.000 pessoas a nível mundial.

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