O Sindicato Independente dos Médicos considera que as equipas da Urgência do Hospital de Leiria “estão longe de cumprir os critérios de segurança clínica exigidos pela Ordem”, alertando para o “risco clínico” devido ao “insuficiente suprimento de recursos humanos”.
Num comunicado, que reproduz a carta enviada ao presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), que integra o Hospital de Santo André (HSA), em Leiria, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) refere que as equipas do Serviço de Urgência deste hospital “estão longe de cumprir os critérios de segurança clínica exigidos pela Ordem dos Médicos”.
“Trata-se duma situação inadmissível, porque coloca em risco a segurança na prestação de cuidados à população abrangida por essa entidade hospitalar”, observa o SIM, salientando que “são várias as especialidades chave ao Serviço de Urgência afetadas pela grave carência em recursos humanos médicos”.
Face ao “risco clínico decorrente do insuficiente suprimento de recursos humanos”, o sindicato deu conhecimento da missiva, assinada pelo secretário regional do SIM/Centro, “à Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos”.
Para o SIM, “a situação vigente mais não é do que o espelho da incapacidade de o SNS [Serviço Nacional de Saúde] atrair especialistas nas diversas áreas de exercício profissional médico”, sustentando que “tal resulta, tão simplesmente, de uma postura do Governo/Ministério da Saúde negligente no respeitante ao investimento financeiro indispensável ao cumprimento da missão do SNS”.
“O acentuado envelhecimento médico, a par de um número de horas extraordinárias praticadas muito além do legalmente obrigatório, são liminarmente ignorados”, assim como “as condições de trabalho que são disponibilizadas aos médicos e restantes profissionais de saúde”, acrescenta.
À agência Lusa, o CHL nota que “são conhecidos os constrangimentos do Serviço de Urgência do Hospital de Santo André” no que respeita aos recursos humanos, situação que “tem obrigado a adaptações e esforços complementares na gestão de equipas", para "garantir o cumprimento dos critérios de segurança clínica”.
“Isso tem sido possível apenas graças à dedicação e empenho dos nossos profissionais, mas também através da articulação com outras unidades hospitalares, dado que o SNS funciona em rede”, refere.
O CHL explica que, “no âmbito desta colaboração, é comum o procedimento de encaminhamento de doentes pelo CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] para outras unidades hospitalares, de forma a garantir que se cumprem os critérios de segurança clínica nos serviços de urgência, evitando situações de sobrelotação”.
“Várias vezes o Serviço de Urgência do HSA recebe doentes encaminhados pelo CODU, de outras áreas de influência, e noutros momentos verifica-se o sentido inverso”, adianta.
O CHL faz ainda saber que “estão em curso procedimentos que asseguram o cumprimento dos critérios de segurança clínica no atendimento aos utentes” e apela a que estes acedam às urgências apenas em situações realmente urgentes.
“No que concerne aos recursos humanos, tem havido dificuldade em completar equipas devido a baixas e isolamentos afetos à [pandemia de] covid-19, assim como dificuldades de recrutamento”, admite o CHL, explicando que “neste momento efetuou-se a reorganização das equipas presentes no serviço para a prestação dos cuidados, com as condicionantes que tal acarreta”.
O CHL acrescenta que “está prevista a contratação de novos médicos, inclusivamente o processo já está em curso há alguns meses e foi intensificado recentemente, tendo sido já contratados médicos generalistas e médicos especialistas em várias áreas”.
O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, confirma a receção do ofício do SIM, garantindo que a Ordem “vai desencadear, com caráter de urgência, uma avaliação técnica às condições de prestação de cuidados de saúde no Serviço de Urgência do hospital”.
Carlos Cortes adiantou à Lusa que a Ordem pediu “esclarecimentos ao CHL no início desta semana”.
“Tínhamos pedido em julho explicações ao CHL e não tivemos resposta. Voltámos a insistir, na sequência da carta do SIM, mas também devido à indicação de colegas que nos contactaram”, disse este responsável.