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Covid-19: “A revermos a percentagem para imunidade de grupo é em baixa e nunca em alta” – afirma co-diretor da Champalimaud Research

CANAL S+ / VD
17-02-2021 16:47h

Com a aprovação iminente da vacina da Janssen/Johnson & Johnson pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), que se prevê para Março, ainda neste primeiro trimestre de 2021, Henrique Veiga-Fernandes, co-diretor da Champalimaud Research, acredita que “a revermos a percentagem para imunidade de grupo é em baixa e nunca em alta”.

Em entrevista ao Canal S+, o investigador principal da Champalimaud Research, que venceu o Prémio Pfizer 2020, acredita que Portugal pode vir a atingir a “imunidade de grupo” antes de 70% da população estar vacinada, graças ao fenómeno da “imunidade cruzada”. Henrique Veiga-Fernandes sublinha que “o nosso historial imunológico nos dá algum tipo de proteção”.

O co-diretor da Champalimaud Research adianta que “todas as empresas farmacêuticas não conseguiram fazer os ensaios clínicos para todos os grupos etários” no processo de desenvolvimento da vacina contra a COVID-19 e que isso não foi um problema exclusivo da Astrazeneca.

Henrique Veiga-Fernandes garante que as vacinas aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento (EMA) conferem “resposta imunitária robusta e sustentada”, logo “Se não houver outra vacina, não devemos comprometer o calendário de vacinação dos mais de 65 anos”, como de resto sustenta a última norma da Direção Geral de Saúde (DGS) a este respeito.

O investigador principal da Champalimaud Research revela que nos Estados Unidos por exemplo já “estão a fazer ensaios clínicos em crianças, com menos de 16 anos”.

Henrique Veiga-Fernandes congratula-se com a inclusão das pessoas com mais de 80 anos nos grupos prioritários para vacinação contra o SARS-COV 2 em Portugal, dado que “ com a COVID-19 já sabemos que a idade é enorme fator de risco” e para além disso “Indivíduos até aos 18 anos são absolutamente pontuais, ou seja uma exceção das exceções, no desenvolvimento de doença grave.”  

Sobre a existência de pessoas, entre os 30 a 45 anos que são considerados super-propagadores de infeção por SARS-COV 2, desde que tenham múltiplos contactos sociais, o co-diretor da Champalimaud Research não considera útil vacinar estes indivíduos numa primeira fase, dado que o critério deve ser realmente a idade, caso contrário “vamos criar uma logística infernal”, defende o imunologista.  

Ao Canal S+, Henrique Veiga-Fernandes mostra-se preocupado com a existência de novas mutações do SARS-COV2 dado que “qualquer variante, com maior transmissibilidade, resulta em maior número de casos de internamento”.

Para o investigador principal da Champalimaud Research o grande problema em Portugal reside na testagem, “onde o país falhou redondamente ao não ter uma política integrada de testagem, inteligente e regular, dos grupos de risco”, afirma o co-diretor.

Henrique Veiga-Fernandes defende ainda um reforço urgente do “contact-tracing” (inquéritos epidemiológicos).

Decorrido quase um ano após a chegada da pandemia da COVID-19 a Portugal, Henrique Veiga-Fernandes lembra que há uma “epidemia silenciosa, uma bomba relógio, que é o não diagnóstico precoce e atempado de cancro”.

O co-diretor da Champalimaud Research sublinha que “vamos ver estados de cancro como não víamos há décadas”. O investigador principal garante tratar-se de “um problema da Nação (…) uma tarefa hercúlea” à qual importa responder de forma alinhada com a participação do “público, privado e corporativo”. Só assim, se conseguirá dar uma resposta a todos os doentes crónicos.

Em 2020, Henrique Veiga-Fernandes recebeu o Prémio Pfizer pelo seu trabalho pioneiro sobre a relação entre o sistema imunológico e uma área do cérebro que controla a fisiologia do corpo, ao longo do ciclo dia-noite, conhecido como "relógio do cérebro". O estudo foi publicado, no ano passado, na revista científica Nature.

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