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Covid:19 - “O Japão tem 126 milhões de habitantes e 4000 mortos por causa da COVID, Portugal tem 8000 mortos com 10 milhões de habitantes” – afirma David Lopes

CANAL S+ / VD
25-01-2021 17:21h

A viver em Tóquio desde Março de 2020, onde preside a uma empresa japonesa de retalho, David Lopes enfrenta a pandemia da COVID-19 num país com 126 milhões de habitantes, mas que, dadas todas as medidas de contingência aplicadas pelo governo japonês, regista apenas 4000 mortos.

Ao Canal S+, o presidente da AEON Topvalu Co, empresa de retalho, fundada há 300 anos, com uma faturação de 85 mil milhões de dólares, explica que “o Japão é um país de regras claras e onde a população por norma acata tudo o que o Governo diz”.

Se o recrudescimento da pandemia em Portugal ocorreu após os encontros familiares do Natal, no Japão sucedeu curiosamente o mesmo, apesar dos japoneses não celebrarem o Natal, por serem xintoístas. David Lopes revela outros fatores para a subida brusca da “curva” epidemiológica no país.

A população japonesa vive, maioritariamente, na faixa costeira do país, em grandes cidades, que possuem um dos sistemas de transportes mais complexos do mundo. Ainda assim, o governo japonês não tem hesitado em tomar medidas restritivas sempre que surgem os primeiros casos, que possam indiciar um novo surto de COVID-19.

Ao S+, David Lopes explica que, apesar da “distância social ser uma coisa praticada há 2000 anos no Japão”, a população cumpre com “grande disciplina” tudo o que o governo e as autoridades de saúde divulgam.

Para o português a viver na capital japonesa, a grande diferença que encontra em relação a Portugal é que “do ponto de vista da proteção civil há uma predisposição para os perigos eminentes. (…) O que é dito nos media é cumprido. Há uma antecipação nos órgãos de comunicação social que lançam o apelo. (…) É um país fustigado por tufões e terramotos”, explica.

Segundo o presidente da AEON Topvalu Co, existe ainda uma outra grande diferença quando comparamos com a realidade portuguesa que reside numa característica cultural, “O uso de máscara é um hábito. Depois, não falam tão alto como os portugueses, logo há menos gotículas”, concluiu David Lopes.

David Lopes adianta ainda ao Canal S+ que apesar da grande maioria dos japoneses se encontrar em casa, em regime de teletrabalho, os que se veem forçados a circular em transportes públicos encontram uma nova realidade. “Em primeiro lugar, a maioria dos transportes públicos, mesmo com mais frio, funcionam com as janelas abertas para a ventilação acontecer”, revela o português.

Depois, “não se vê um grupo de jovens a conviver sem máscara. Aquilo que o governo emite, é muito ouvido e respeitado”, sublinha.  

Nesta entrevista ao S+, David Lopes a presidir a uma empresa japonesa do sector do retalho revela que “a quebra do PIB é muito grande. Existem sectores muito atacados, o que não é muito diferente do que é em Portugal”.

O antigo administrador executivo e CEO da Fundação Francisco Manuel dos Santos, explica ainda que se os japoneses são extremamente leais às empresas onde trabalham, quase como se fossem relações sagradas, o mesmo sucede por parte da empresa em relação ao funcionário; pelo que “O que se passa em relação aos negócios é dramático, mas da mesma forma que o trabalhador tem esta relação com a empresa. A empresa também o mantém até à última das consequências. É um esforço muito grande.”, avança.

O antigo CEO do Recheio Cash & Carry do Grupo Jerónimo Martins adianta também que o navio de cruzeiro que esteve no porto de Yokohama, com alguns portugueses a bordo infetados, logo no início da pandemia da COVID-19 foi utilizado pelo governo de Tóquio como “laboratório” para desenharem estratégias de combate ao vírus, caso ele chegasse à comunidade de forma generalizada.

Por fim, o português que presidiu à Daymon durante três anos lamenta que Portugal “tenha perdido o rasto às cadeias de infeção” e defende um maior controlo, sobretudo nas fronteiras, à entrada de turistas e estrangeiros. Para David Lopes medidas restritivas, desde que bem comunicadas, só levam os turistas a sentirem-se mais seguros.

David Lopes assumiu posições de liderança na empresa Biedronka, na Polónia, do Grupo Jerónimo Martins e na Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido membro do Conselho de Administração do Parque Expo, do Oceanário de Lisboa e da Fundação do Gil.

É membro fundador do Conselho da Diáspora portuguesa e do conselho fiscal da Fundação polaca Warta.

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