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Consumo continuado de mirtilos tem forte impacto no fígado, mas pode ser útil no combate à diabetes e obesidade, afirma estudo da Universidade de Coimbra (UC)

CANAL S+ / VD
22-01-2021 11:19h

Doenças como a diabetes e a obesidade podem ser atenuadas, graças ao consumo de mirtilo, anunciou um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra (UC), que alerta simultaneamente para os efeitos registados no fígado.

Sabe-se que a baga, baixa em calorias, tem efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, porém um consumo prolongado no tempo deste “super-alimento” produz um impacto hepático.

Ao Canal S+, a investigadora Sara Nunes da UC, explica que “a ideia inicial era estudar a função dos mirtilos na regulação da microbiota, mas no decorrer do estudo, encontramos resultados pertinentes”, adiantou a estudante de doutoramento.

Segundo Sara Nunes, “numa condição saudável, houve impacto ao nível das mitocôndrias”, que “ainda não podemos dizer se é benéfico ou nefasto”, esclarece a especialista, para quem é importante alertar a população para “usar de bom senso no consumo desta baga”.

O estudo coordenado por Flávio Reis e Sofia Viana foi desenvolvido pelo Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR), da Faculdade de Medicina da UC, com o intuito de analisar a composição fitoquímica do mirtilo.

Durante a investigação, Sara Nunes afirma que “O que nos parece é que as mitocôndrias estão em estado hibernado. Como se fosse uma dieta hipercalórica”.

Nesse sentido, a investigadora aconselha “um consumo moderado de mirtilos, com uma dieta diversificada de outras frutas”, até porque outros estudos internacionais “têm apontado para que o consumo excessivo de antioxidantes pode tornar-se em pró-oxidante”, alerta.

O estudo da UC foi levado a cabo, durante 14 semanas, em ratos submetidos a um consumo regular de um copo diário de sumo de mirtilo e veio mostrar que em ratos pré-diabéticos existiu uma clara proteção contra a acumulação de gordura. Porém, observou-se “um impacto enorme ao nível da mitocôndria”, afirma Sara Nunes, que integra a equipa de investigadores.

A especialista adianta ao Canal S+ que a equipa também está a estudar as folhas do arbusto, muitas vezes, um desperdício florestal que importa “colocar na cadeia de valor”, sugere.

Sara Nunes anuncia ainda que “as folhas de mirtilo contêm uma quantidade superior de compostos bioativos em relação ao fruto”, o que justifica “a produção de um novo nutracêutico com fortes potencialidades para a saúde humana”.

O estudo, publicado recentemente na revista Pharmaceutics, vai agora avaliar com rigor o impacto hepático verificado para perceber se, de facto, estamos perante um resultado benéfico ou nefasto.

 A equipa de investigadores da UC está a desenvolver um projecto, muito mais alargado, com o intuito de compreender e estudar o potencial terapêutico da planta do mirtilo e não só a baga, em parceria com a Cooperativa Agropecuária dos Agricultores de Mangualde (COAPE) e com a MIRTILUSA (Sever do Vouga).

Segundo Flávio Reis e Sofia Viana, foi já desenvolvida uma tecnologia de processamento das folhas caducas do arbusto, até aqui um desperdício agrícola para as transformar em biomassa. Trata-se de um caminho “muito promissor, dadas as propriedades antioxidantes potentíssimas do ponto de vista terapêutico”, garantem.

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