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Covid:19 - “Nunca definimos o limiar a partir do qual poríamos em risco o SNS”, afirma professor de matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

CANAL S+ / VD
20-01-2021 12:49h

Há um ano a estudar a evolução da pandemia da COVID-19 em Portugal, o matemático Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, afirma que “nunca definimos o limiar a partir do qual poríamos em risco o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Ao Canal S+, o académico garante que “não devíamos ter deixado a incidência subir acima dos 3000 casos diários de infeção”. Carlos Antunes não tem dúvidas que se “tivemos dificuldade em controlar a 2ª vaga”, chegamos a esta 3ª vaga “com um planalto de casos, (…) que nos deixa numa posição muito vulnerável”, afirma.

Para o professor de matemática, foram cometidos erros e “desde Outubro que devíamos ter entrado em grau máximo de contingência”. O especialista acredita que para controlarmos a pandemia e achatarmos de novo a curva epidemiológica, “temos de ser mais drásticos” nas medidas.

Carlos Antunes garante que a população portuguesa mais jovem, entre os 18  e os 24 anos, tem registado uma incidência máxima de casos, desde Maio passado, logo após o desconfinamento. Para o professor de matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa “demos evidência que havia transmissão” e “face a uma ameaça tão incerta (…) a ação tem de ser imediata”, sustenta.

O especialista cita ainda o exemplo de Israel, da Dinamarca ou da Irlanda, que também tiveram um elevado número de surtos e conseguiram controlar a situação; primeiro, com confinamento e depois com um reforço da testagem e dos rastreios epidemiológicos. Para Carlos Antunes, “é preferível ter técnicos de inquéritos epidemiológicos a mais, do que ter policias a mais a vigiar a rua”.

Nesta entrevista ao Canal S+, Carlos Antunes adianta ainda que “sabemos que há capacidade e kits suficientes para fazer mais testagem”, o que devia ser intensificado sobretudo nos casos “suspeitos”. O investigador lamenta que “não estamos a ter capacidade de rastreio”, apesar de todos os esforços da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), pelo que estamos a “perder” cerca de 15 a 17 mil casos.

Em relação às novas mutações do SARS-COV 2 já em circulação em Portugal, como é o caso da variante inglesa, Carlos Antunes alerta que se tratam de estirpes “com uma maior capacidade de transmissão”. O professor de matemática afirma que “a inglesa tem uma maior capacidade média de transmissão, em cerca de 56%. O que pode implicar um aumento de 0,4% no “R”.

Para o especialista, sabendo que “mais cedo ou mais tarde estas variantes acabam por se tornar dominantes”, a solução passa por “triplicar o rastreio”.

Um balanço divulgado hoje, às 11:00, pela AFP indica que a pandemia da COVID-19 “causou 2.058.226 mortes no mundo, entre os 96.144.670 infetados desde que o SARS-CoV-2 foi identificado na China, em dezembro de 2019.

 

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