SAÚDE QUE SE VÊ

Abusos das forças governamentais e violência étnica agravaram-se na Etiópia - Human Rights Watch

LUSA
13-01-2021 11:07h

Abusos contínuos das forças governamentais, ataques de grupos armados e violência étnica marcaram o panorama dos direitos humanos, em 2020, na Etiópia, com o país a terminar o ano numa guerra civil, segundo um relatório divulgado hoje.

"O panorama dos direitos foi definido por abusos contínuos por parte das forças de segurança governamentais, ataques a civis por grupos armados, violência mortal entre comunidades e etnias e uma crise política", denuncia a organização Human Rigts Watch (HRW) no seu relatório anual, apresentado hoje a partir de Nova Iorque.

O documento analisou e registou a situação dos direitos humanos em 100 países, mais de um quarto deles no continente africano.

"A situação da segurança e dos direitos humanos na Etiópia deteriorou-se com o primeiro-ministro, Abiy Ahmed”, refere.

O Governo decidiu, em março, adiar por tempo indeterminado as eleições previstas para agosto, alegando risco de saúde associados à pandemia de covid-19, decisão condenada pela oposição e que levou ao escalar de tensão entre o Governo federal e as autoridades da região do Tigray, no Norte, que mantiveram a votação.

Em 04 de novembro, o primeiro-ministro Abiy ordenou ataques contra a região que escalaram para "confrontos violentos" entre forças regionais e federais.

O relatório aborda também o assassínio, em julho, do popular cantor de etnia oromo, Hachalu Hundessa, que desencadeou uma serie de protestos, fortemente reprimidos pelas forças de segurança.

"Houve uma resposta de mão pesada das forças de segurança, destruição de propriedade em grande escala e violência por parte de civis que visaram as comunidades minoritárias na região de Oromia", adianta a HRW.

"Os ataques agravaram as tensões sociais e políticas existentes, que foram ainda exacerbadas pela detenção de dezenas de membros de partidos da oposição pela sua alegada ligação com a violência", acrescenta.

O relatório assinala também que foram "feitos poucos progressos" para garantir justiça para abusos passados e recentes, incluindo investigações sobre confrontos mortais em outubro de 2019.

No mesmo sentido, avalia-se no documento, "foram limitadas" as reformas institucionais, nomeadamente no setor da segurança, prometidas pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed.

Além da Etiópia, o relatório aborda a situação de direitos humanos em mais de 25 países africanos, destacando, entre outras violações, os incidentes de violência xenófoba que se continuaram a registar na África do Sul, perante a indiferença frequente das forças de segurança.

Na República Centro-Africana, o relatório assinala um decréscimo da violência em algumas regiões do país, que atribui ao acordo de paz assinado entre o Governo e 14 grupos armados em 2019.

Apesar disso, nota-se no documento, grupos armados continuaram a cometer graves abusos e a situação de segurança manteve-se frágil em 2020, com a maioria do país ainda a ser controlada por estes grupos.

Na República Democrática do Congo, segundo a HRW, as autoridades reprimiram manifestantes, jornalistas e políticos, enquanto utilizaram as medidas de estado de emergência devido à pandemia de covid-19 como pretexto para refrear os protestos.

A situação dos direitos humanos deteriorou-se também no Mali, em 2020, com registos de abusos contínuos por parte de grupos islâmicos armados, milícias étnicas e forças de segurança governamentais, cenário que resultou na queda do Governo em agosto num golpe militar.

Na Guiné-Conacri, que realizou eleições em outubro, o período pós-eleitoral ficou marcado pela violência, com as forças de segurança a provocarem a morte a pelo menos 12 pessoas, incluindo duas crianças.

Na origem dos conflitos violentos, esteve a eleição para um terceiro mandato, considerado inconstitucional, do Presidente Alpha Conde.

MAIS NOTÍCIAS