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Presidenciais: Ana Gomes e Marisa juntam-se para defender SNS de paradigma liberal de Mayan

LUSA
13-01-2021 08:13h

Sem grandes picardias, o debate televisivo entre os sete candidatos presidenciais encontrou na saúde as principais dicotomias, a esquerda a puxar pelo Serviço Nacional de Saúde e a direita entre o equilíbrio e uma mudança de paradigma.

Foram quase duas horas de debate sereno, exceto uma troca de argumentos entre as candidatas Ana Gomes e Marisa Matias e o liberal Tiago Mayan Gonçalves. Apesar do aviso do moderador de que até poderia pedir para silenciar microfones se não houvesse respeito entre os candidatos, não houve interrupções, contrastando com alguns frente-a-frente da última semana.

Ana Gomes atirou aos "críticos neoliberais do Serviço Nacional de Saúde", que "dizem que o problema é de gestão", recusando que assim seja, e contrapôs com a "falta de recursos".

Na ótica da antiga eurodeputada socialista, o SNS é o que "tem valido" aos portugueses durante a pandemia de covid-19. Advogou que a "fantasia dos seguros não serve a saúde pública", defendendo o recurso à requisição de meios privados pagos "a custo justo".

Indicando que quer "fazer a diferença", Ana Gomes acusou o Presidente da República de ter "dado a mão e o palco aos privados".

Em consonância com a socialista, Marisa Matias, a candidata apoiada pelo BE, salientou que “o mito de que o Serviço Nacional de Saúde é mais caro, é um mito mesmo”, argumentando que o SNS “custa menos aos portugueses e é mais eficiente”.

Opinião oposta teve Tiago Mayan Gonçalves, que defendeu “um efetivo acesso universal dos cuidados de saúde aos portugueses, dando-lhes a liberdade de escolha” no que toca ao prestador de saúde que querem.

Considerando que "há uma total incongruência entre quem há meses dizia que o setor privado e social não era necessário e agora clama por ele", o candidato liberal lamentou o “preconceito ideológico” da esquerda, e apontou que “quem despreza o setor social e privado da saúde, despreza princípios de boa gestão, boa afetação de recursos, eficiência, boa gestão de recursos humanos”.

Marcelo Rebelo de Sousa frisou que a pandemia permitiu concluir que o SNS "é a coluna vertebral da saúde em Portugal, é insubstituível" e alertou que "é preciso investir mais", considerando que "há margem" para isso.

O candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS-PP defendeu que, "onde o setor público não pode acorrer sozinho, precisa do social", mas também "precisa, em situações específicas, do setor privado".

"Na vigência do estado de emergência prevê-se o recurso [ao privado] com indemnização, e indemnizar justamente é pagar aquilo que custaria, exatamente o mesmo que custaria, no SNS, não é pagar mais", frisou.

Por seu turno, André Ventura recusou a ideia de que "toda a saúde privada é uma desgraça", querendo combater o "preconceito ideológico", e defende o alargamento da ADSE a todos os portugueses.

Dando um exemplo pessoal, Vitorino Silva afirmou que se estivesse doente, “não ia escolher ser tratado no privado ou no público”, queria “era ser salvo”.

O candidato comunista João Ferreira juntou-se às vozes em defesa do SNS, considerando que é imprescindível, em particular durante uma "situação de aflição" como é o caso da pandemia, e salientou que "é absolutamente claro na Constituição da República" o “direito constitucional à proteção na saúde se assegura através do Serviço Nacional de Saúde".

Ao longo de duas horas, foram vários os temas abordados no debate que foi transmitido a partir do Pátio da Galé, em Lisboa. Além da saúde, os candidatos deram a sua opinião também sobre um possível adiamento das eleições, o futuro do país, os fundos europeus, e fizeram um balanço do mandato do atual Presidente e da sua relação com o Governo ao longo dos últimos cinco anos.

Os candidatos em estúdio estiveram distanciados, e distribuídos em função da ordem alfabética do apelido. No local destinado a Marcelo Rebelo de Sousa estava um ecrã, onde apareceu a imagem do candidato, que participou a partir da sua residência, usando máscara, depois de ter testado positivo ao novo coronavírus.

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