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Covid-19: “Em 2020, tivemos 12 mil óbitos a mais do que seria de esperar”, afirma barómetro da COVID-19 da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP)

CANAL S+ / VD
12-01-2021 22:47h

Investigadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa garantem que houve um excesso de mortalidade em Portugal em 2020. Segundo os académicos, registaram-se 12 mil óbitos a mais do que seria de esperar, o que significa um aumento de 13,6% em relação ao ano anterior, como revelou ao Canal S+, Vasco Ricoca Peixoto, que participou na elaboração do último Barómetro COVID-19 sobre os 10 meses da pandemia.

O médico de saúde pública lembra, apesar de tudo, que “a mortalidade é um aspeto de muitos numa pandemia”, até porque existem outras mortes, as colaterais, motivadas por outras doenças que não podem ser ignoradas.

 

Sobre o novo confinamento que o Governo se prepara para anunciar esta semana, com o intuito de achatar a curva de novas infeções de COVID-19, Vasco Ricoca Peixoto sublinha que “se deixarmos a pandemia descontrolar-se, teremos também menos capacidade de tratar os outros doentes”, os chamados Não-Covid.

O especialista em Saúde Pública não tem dúvidas que a mortalidade colateral (provocada por outras doenças) também sofreu um aumento em 2020, apesar dos esforços da Ordem dos Médicos (OM) que, tantas vezes, alertou para a necessidade de “não deixar ninguém para trás”.

Sobre a presença da nova variante da COVID-19, muito mais contagiosa do que a anterior identificada no Reino Unido, o investigador da ENSP afirma que “ainda é cedo para termos um grande reflexo em Portugal da nova variante”, ainda assim Vasco Ricoca Peixoto adianta que “Nós sequenciamos uma percentagem muito pequena dos testes... Agora vamos começar a sequenciar mais”, o que significa que se torna muito difícil identificar que variante circula em maior força no território nacional. O médico de saúde pública garante que em Epidemiologia estamos sempre a ver “apenas a ponta do iceberg”. Ou seja, quando se identificam 5 mil casos, podem existir na comunidade o dobro.

Para Vasco Ricoca Peixoto, “devíamos ter começado mais cedo uma estratégia de comunicação”, em vez de passarmos a vida “a fazer a dança das restrições”. O investigador da ENSP mostra-se ainda preocupado com o elevado grau de desinformação que existe no país.

O médico de Saúde Pública explica que o Barómetro da COVID-19 da ENSP ainda não está a analisar com a devida atenção as consequências, a longo prazo, na saúde dos infectados com SARS-COV-2, mas para já existe um índice que mede a relação da incapacidade a longo prazo por causa da COVID-19.

Vasco Ricoca Peixoto recorda que a infeção por SARS-COV-2 é aguda e pode originar sintomas neurológicos prolongados, como seja: nevoeiro cerebral, insónia, quadros de ansiedade, falta de concentração e até doenças degenerativas cerebrais como Parkinson e Alzheimer.

De acordo com o Barómetro da COVID-19 da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) “uma grande parte dos países Europeus também registou excessos de mortalidade e níveis elevados de mortalidade colateral. Até ao final de maio, Inglaterra e Gales, Itália e Espanha tinham registados proporções de 28,8%, 32,5%, 61,8% respetivamente, enquanto que Portugal teria registado cerca de 49,1%”.

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