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“Não há nenhum sistema nacional de saúde que esteja preparado para uma pandemia” – afirma presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna

CANAL S+ / VD
18-11-2020 18:38h

João Araújo Correia tem noção do que se passa no país todo, sobretudo a nível hospitalar, dado que preside à Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Ao Canal S+, o também Director do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar do Porto (CHP) afirma que “os sistemas nacionais de saúde não podem estar preparados para alocar doentes com uma doença nova da qual se sabe tão pouco”.

No dia em que 75% das camas das Unidades de Cuidados Intensivos (UCIs) se encontram ocupadas e o governo pondera dividir os concelhos do país em três grupos conforme o número de infectados pela COVID-19, João Araújo Correia garante que “Aprendemos e continuamos a aprender muito e estamos agora a repetir coisas que já tínhamos feito antes”. O presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna afirma que vão de novo “transformar unidades de serviço de medicina, pelo país todo, em unidades COVID (…) e reduzir a atividade cirúrgica”.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna lamenta que a atividade programada, dos doentes não-COVID, não tenha sido reencaminhada com maior antecedência para os privados, dado que nunca se vai conseguir o “milagre” de recuperar a lista de espera, abarcar os doentes COVID e continuar a ter a atividade programada, definida nos contractos programa do Ministério da Saúde.

Para João Araújo Correia estamos perante a “quadratura do círculo, algo verdadeiramente impossível. O Director do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar do Porto (CHP) critica igualmente a ideia de “livre arbítrio” que se criou ao deixar aos Conselhos de Administração de cada Centro Hospitalar a gestão de processos que deviam ser encabeçados por responsáveis a nível nacional, de modo a garantir a devida coordenação.

Para o médico especialista em Medicina Interna “numa situação grave, a coisa mais importante em comunicação é falar verdade”. Nesta entrevista ao Canal S+, João Araújo Correia lembra que “As pessoas só quando são confrontadas com a verdade é que arregaçam as mangas e vão colaborar. Depois é importante que percebam que estão a ouvir a verdade científica e não a verdade aligeirada com outras políticas”.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna aponta ainda o dedo ao facto dos hospitais “terem sido deixados um bocadinho sozinhos, quer na gestão desta questão, quer na contratualização com os privados. Pode-se ou não se pode? É coisa estranha”, afirma o clínico para quem “resta apenas (aos hospitais) gritar por socorro quando estão a submergir”, sublinha.

Hoje, a maior parte das Unidades de Cuidados Intensivos (UCIs) da região norte registam uma taxa de ocupação superior a 90%, muito por causa do aumento do número de infeções nos concelhos de Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras.

João Araújo Correia está convencido que “grande parte dos casos tem a ver com o elevado número de fábricas de calçado e têxteis que se encontram na região e os transportes públicos”. O presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna assegura que “a doença é altamente contagiosa” e o facto dos três concelhos mais afetados a norte terem uma população muito jovem pode também contribuir para isso.

Hoje, durante a habitual conferência de imprensa que faz o ponto de situação da pandemia, a Ministra da Saúde anunciou que em Dezembro será conhecido o plano de vacinação contra a COVID-19 e alertou os profissionais de saúde para a possibilidade de terem de alterar as férias previstas para o mês de Dezembro, na eventualidade do número de infetados continuarem altos.

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