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Atribuição do Nobel lembra que paz e erradicação da fome são indissociáveis -PAM

LUSA
09-10-2020 12:28h

O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, que recebeu hoje o Prémio Nobel da Paz de 2020, agradeceu o galardão considerando tratar-se de “um poderoso lembrete ao mundo de que paz e erradicação da fome são indissociáveis”.

Este prémio “é um reconhecimento do trabalho dos colaboradores do Programa Alimentar Mundial (PAM), que arriscam a vida todos os dias para levar alimentos e dar assistência a mais de 100 milhões de crianças, mulheres e homens que passam fome em todo o mundo”, sublinhou a organização, numa mensagem divulgada através da rede social Twitter.

O anúncio da atribuição do Nobel da Paz foi feito hoje em Oslo pela presidente do comité, Berit Reiss-Andersen, que justificou a distinção do PAM com “os seus esforços para combater a fome, o seu contributo para melhorar as condições para a paz em áreas afetadas por conflitos e por agir como uma força motriz nos esforços para prevenir o uso da fome como uma arma de guerra e de conflito”.

O PMA é a maior organização humanitária do mundo que lida com a fome, tendo prestado assistência em 2019 a quase 100 milhões de pessoas em 88 países, lembrou a entidade norueguesa.

O diretor do PAM, o norte-americano David Beasley, elogiou “a família PAM”, e disse não ter palavras para reagir ao prémio.

“Acho que esta é a primeira vez na minha vida que fico sem palavras”, disse à Associated Press (AP) por telefone, admitindo estar “em comoção e surpreso”.

O diretor do PAM adiantou ter tido conhecimento da atribuição do Nobel da Paz através de um porta-voz da organização.

“Este é um momento muito emocionante, é o Prémio Nobel da Paz. E tudo graças à família do PAM”, afirmou, sublinhando que os trabalhadores do programa “estão nos lugares mais difíceis e complexos do mundo, onde há guerra, conflitos ou climas extremos”.

“Eles é que merecem este prémio”, elogiou.

Os trabalhadores do PAM no Níger, onde Beasley se encontra, saudaram o diretor com gritos e aplausos durante a sua saída do edifício para se dirigir a uma multidão, após o anúncio do Nobel.

“Duas coisas: nem acredito que estou no Níger na altura em que recebemos o prémio e não fui eu que ganhei, foram vocês”, disse o diretor.

Surpresa e orgulho também foram as reações do porta-voz do PAM, o primeiro da organização a tomar conhecimento da atribuição do Nobel.

"É um momento de orgulho", disse Tomson Phiri numa conferência de imprensa regular em Genebra, pouco após saber que a sua organização tinha sido distinguida.

"Uma das belezas das atividades do PAM é que não só fornecemos alimentos para hoje e amanhã, mas também damos às pessoas os conhecimentos necessários para se proverem nos dias que se seguem", disse o porta-voz.

Fundado em 1961 com sede em Roma e integralmente financiado por contribuições voluntárias, o PAM diz ter distribuído 15 mil milhões de refeições e assistido 97 milhões em 88 países no ano passado.

Apesar da dimensão dos números, a organização diz que representam apenas uma fração das necessidades totais.

O Comité do Nobel realçou que o problema da fome voltou a agravar-se nos últimos anos e foi reforçado recentemente pela pandemia de covid-19.

“Em 2019, cerca de 135 milhões de pessoas sofreram de fome aguda, o maior número registado desde há muitos anos”, referiu o comité, acrescentando que as maiores causas para o aumento da fome “foram a guerra e os conflitos armados”, mas também “a pandemia do novo coronavírus contribuiu para um forte crescimento do número de vítimas de fome no mundo”.

O Comité do Nobel pediu, por isso, aos governos que garantam que o PAM e outras organizações de ajuda recebem o apoio financeiro necessário para alimentar milhões de pessoas em países como o Iémen, o Congo, a Nigéria, o Sudão do Sul ou o Burkina Faso.

O PAM tem afirmado frequentemente que as mudanças climáticas, e consequentes estragos provocados nas plantações, são a principal causa do aumento da fome no mundo.

Em abril, o diretor alertou o Conselho de Segurança da ONU para a gravidade da situação, referindo que o mundo estava “à beira de uma pandemia de fome” e que se poderiam registar “múltiplas crise alimentares de proporções bíblicas” em poucos meses caso não fosse tomada uma ação imediata.

O Prémio Nobel da Paz, considerado o de maior prestígio do mundo, tinha vários candidatos este ano, constando da lista 211 pessoas e 107 organizações indicadas antes do prazo final de 1 de fevereiro.

O reconhecimento do Nobel implica a atribuição de 10 milhões de coroas (cerca de 920 mil euros) e uma medalha de ouro.

O comité já atribuiu esta semana os prémio de Medicina, Física, Química e Literatura, estando marcado para o início da próxima semana o anúncio do Nobel de Economia.

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