A maioria dos estudantes que participou num inquérito nacional disse ter sido vítima de ‘ciberbullying’ durante a pandemia, um problema que afetou mais os rapazes, os jovens de famílias com menos rendimentos e os estudantes gays e lésbicas.
Quando as escolas encerraram e as aulas presenciais foram substituídas pelo ensino à distância, uma equipa de investigadores do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE tentou perceber se havia um aumento de casos de ‘ciberbullying’.
Através de um inquérito ‘online’, a maioria dos estudantes (61,4%) admitiu ter sido vítima entre os meses de março e maio de 2020, contou à Lusa a investigadora Raquel António, que lidera a equipa do Instituto Universitário de Lisboa.
Os estudantes do sexo masculino, aqueles que pertencem a famílias com rendimentos familiares mais baixos e os estudantes gays ou lésbicas foram as principais vítimas.
As consequências de sofrer ‘bulliyng’ traduziram-se em “sentimentos de tristeza, sentirem-se mais irritados ou nervosos”, contou Raquel António.
Outra das questões do inquérito estava relacionada com a perceção do aumento de casos e a maioria dos alunos (59%) sentiu, precisamente, que houve mais mensagens com conteúdos prejudiciais e violentos.
Quase nove em cada dez admitiu ter observado situações de ‘bullying’ ‘online’, mas apenas metade disse ter atuado para impedir a continuidade da agressão, ainda segundo os resultados do estudo “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia do Covid-19”.
Os alunos que disseram ter agido perante um caso de bullying explicaram que a solução passou por dar apoio à vítima, aconselhar a expor a situação a alguém de confiança ou tentar perceber a gravidade do bullying cometido.
O estudo do ISCTE mostrou ainda que mais de um quarto dos jovens que responderam ao inquérito assumiu ter feito ‘bullying’.
As principais razões para o fazerem foi "por diversão", vingança e necessidade de afirmação. O estudo revela que apenas 16% admitiram sentir culpa pelo que estavam a fazer.
Se as vítimas falam em sentimentos de tristeza, irritação e nervosismo, os agressores escolhem “a indiferença, a raiva e a alegria como as emoções mais frequentes durante o cyberbullying”.
Os resultados do estudo hoje divulgado são referentes ao período entre março a maio deste ano e contaram com a participação de 485 alunos do ensino básico, secundário e superior.
“A amostra é pequena”, mas tem alunos de todos os distritos do país, contou à Lusa a coordenadora.
A investigadora Raquel António lembrou que em todo o mundo milhões de crianças e jovens foram afetadas pelo fecho de escolas durante o confinamento, ficando “mais vulneráveis e expostas a serem vítimas de cyberbullying”.
Para a investigadora, são precisas medidas mais eficazes no combate ao cyberbullying, tais como as escolas discutirem mais o assunto ou serem criados veículos de redução de mensagens e conteúdo violento.
“É necessária uma cultura de promoção de empatia e de denuncia de conteúdo abusivo para prevenir situações de bullying online”, defendeu Raquel António.