A Fundação ADFP, de Miranda do Corvo, propõe ao Ministério da Saúde que assuma a gestão do Hospital Compaixão, propriedade da instituição, que se encontra por abrir por falta de acordos com o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"Podemos ceder ao Estado todo o investimento que realizámos, desde que o Ministério da Saúde assuma gerir adequadamente e diretamente o Hospital, aproveitando o seu potencial, respondendo às necessidades das populações e colocando-o ao serviço do interesse público", escreveu o presidente da Fundação, Jaime Ramos, em carta à ministra Marta Temido, datada de 26 de dezembro, a que a agência Lusa teve hoje acesso.
Concluído há vários meses e totalmente equipado com tecnologia de última geração, a unidade de saúde no distrito de Coimbra, encontra-se licenciada desde junho e pronta a entrar em funcionamento, mas faltam os acordos com o SNS que a tornem sustentável.
"Qualquer observador independente percebe que o Hospital Compaixão é fundamental para as pessoas residentes no Pinhal Interior, nomeadamente, na região dos vales dos rios Ceira e Dueça e concelhos vizinhos de Miranda do Corvo", salientou Jaime Ramos.
No ofício, em que procura sensibilizar a ministra da Saúde para a importância daquela unidade de saúde, o presidente da Fundação ADFP frisa que não se move por “qualquer interesse privado” e visa “unicamente a defesa da utilidade pública".
Segundo o dirigente, se a unidade "fosse para fazer negócio com a saúde teriam investido numa grande cidade como fazem os investidores ‘capitalistas'".
"Para apoiar o desenvolvimento regional e dar resposta às necessidades das pessoas perante a doença, investimos em Miranda do Corvo, no Pinhal Interior Norte, num projeto que não visa o lucro, não vai remunerar capital, não distribuirá dividendos, nem exportará saldos financeiros para o estrangeiro", sublinha.
O Hospital Compaixão de Miranda do Corvo dispõe de quatro valências da Imagiologia Clínica (TAC, Radiologia, Mamografia e Ecografia), análises clínicas, dois blocos operatórios, área de urgência, setor de consultas de ambulatório com especialidades médicas e de internamento.
A Fundação ADFP reivindica um acordo de cooperação para que o SNS comparticipe nos exames complementares de diagnóstico, no atendimento permanente de urgência com horário alargado para complementar as respostas dadas pelos Centros de Saúde, consultas de especialidade médicas, com consultas na hora de modo a poupar o tempo de deslocação e os custos unitários, tratamentos cirúrgicos, internamento de medicina e cuidados continuados de convalescença e paliativos.
O presidente da instituição salienta que "em todo o Pinhal Interior Norte não há nenhuma cama de cuidados continuados de convalescença ou paliativos", quando o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra tem entre "70 a 100 camas ocupadas por internamentos sociais, doentes já com alta médica, que não têm vaga noutras instituições".
"A contratação de 40 camas, mais baratas, mais humanizadas, mais próximas das famílias, no Hospital Compaixão, será um ato de racionalidade na gestão", refere a missiva.
"Sentimos que o esforço que estamos a fazer para inverter este esvaziamento do interior está a ser igualmente desprezado", lamenta Jaime Ramos, adiantando que "a recusa de acordos de cooperação que permita o acesso das pessoas está a prejudicar a população que vive em zonas muito deprimidas, de baixa densidade, sujeitas a envelhecimento e ao êxodo de jovens".
O presidente do Conselho de Administração defende que o Hospital Compaixão garante ao SNS uma maior sustentabilidade, com redução de custos unitários para o Estado, que paga nove utentes e consegue tratar 10, maior comodidade para o utente, assim como melhor acessibilidade e proximidade da residência e redução do tempo de lista de espera e criação de emprego.
Com um investimento de sete milhões de euros, maioritariamente suportado pela Fundação ADFP (6,2 milhões de euros), a unidade hospitalar tem prevista a criação de 100 postos de trabalho, que já estão pré-selecionados.
O restante valor do investimento (800 mil euros) foi suportado pelo município de Miranda do Corvo, com um apoio de 550 mil euros para a construção e 250 mil euros para equipamentos.