Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que envolveu 72 dadores de gâmetas e 177 beneficiários, concluiu que é necessário “diversificar” o público-alvo e os locais de campanha para diminuir a “estigmatização” da doação.
Em entrevista à agência Lusa, Susana Silva, investigadora do ISPUP explicou hoje que o estudo, publicado no The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care, tinha como objetivo “avaliar a recetividade e qualidade” das campanhas de sensibilização para a doação de gâmetas.
“Queríamos avaliar, a partir da perspetiva das experiências dos dadores e beneficiários, a recetividade e qualidade destas campanhas de educação para a saúde”, sustentou.
Nesse sentido, o grupo de investigação do ISPUP fez entrevistas e inquéritos a 72 dadores de gâmetas [óvulos e espermatozoides doados para técnicas de procriação medicamente assistida] e 177 beneficiários, recrutados no Banco Público de Gâmetas, no Porto.
Além de informação para orientar o desenho de futuras campanhas, Susana Silva sustentou que o objetivo era também compreender como seria possível “minimizar e combater a estigmatização” associada a esta doação.
“A doação de gâmetas está habitualmente rodeada de um ambiente sociocultural, assim como técnico e científico de segredo. Este secretismo, de alguma forma, não só dificulta o combate à estigmatização como faz com que alguns dos direitos dos próprios dadores e beneficiários sejam de alguma forma camuflados”, realçou.
De acordo com a investigadora, os resultados obtidos mostram a necessidade de “diversificar o público-alvo”, tendo sido identificados três grupos preferenciais: estudantes universitários, profissionais de saúde que não trabalham na área da medicina reprodutiva e pessoas em idade fértil que já tiveram filhos.
Além do “alargamento” deste perfil de dadores, os inquiridos manifestaram também a necessidade destas campanhas serem alargadas a outros locais, além dos habituais espaços de saúde.
“Esta informação deveria passar de forma transparente e rigorosa em diversos recursos, nomeadamente nos meios de comunicação. Os inquiridos focaram muito o caso da televisão com a utilização de histórias na primeira pessoa, quer do dador, quer dos beneficiários”, afirmou.
À Lusa, Susana Silva salientou ainda a necessidade destas campanhas serem acompanhadas de “um debate público critico e participativo”, de modo a “repensar os seus conteúdos e facultar informação percetível”.
“O que nós propomos é evitar nestas campanhas o uso de termos médicos específicos, facultar informação atualizada e percetível sobre benefícios, riscos, direitos, procedimentos, locais de recolha e também sobre o tratamento, isto é, quantas pessoas precisam e qual é a oferta”, concluiu.
Atualmente, em Portugal, existem três centros públicos de recolha de gâmetas, o Centro Hospitalar do Porto, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Centro Hospitalar Lisboa Central. O Banco Público de Gâmetas, no Porto, além de ser centro de recolha é também o centro de armazenamento e distribuição do país.
O estudo, desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP, integra o projeto Engaged – Bionetworking e cidadania na doação de gâmetas.