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Médicos do Paquistão atribuem maior surto de HIV no país a má assistência médica

LUSA
20-12-2019 16:16h

Um grupo de médicos paquistaneses atribuiu hoje um recente surto de VIH entre crianças de uma cidade do sul às práticas precárias de assistência médica, como o uso de agulhas sujas e sangue contaminado.

Os médicos pediram ao Governo do Paquistão que se esforce para entender como é que o vírus passou de grupos de alto risco, como utilizadores de drogas e profissionais do sexo, para a população em geral.

Os médicos alertaram também que não há medicamentos suficientes na cidade de Ratodero, no sul da província de Sindh, onde 591 crianças precisam de tratamento médico.

O surto é extremamente preocupante, disseram os médicos, classificando-o como “um dos piores” no Paquistão.

Foram estudados dados médicos de 31.239 pessoas doentes em Ratodero, onde ocorreu o surto de VIH.

Desse grupo, 930 eram positivos para o VIH, sendo 604 menores de 5 anos e 763 menores de 16 anos, de acordo com o estudo publicado no jornal internacional Lancet Infectious Disease Journal.

No final de julho, quando o estudo estava a ser concluído, apenas uma em cada três crianças tinha iniciado o tratamento antirretroviral “devido ao fornecimento inadequado de medicamentos e à falta de pessoal treinado”, afirma o grupo em comunicado.

O estudo concluiu que 50 das crianças examinadas tinham sinais de “imunodeficiência severa”, mas não especificou se tinham Sida.

“Os resultados, que constituem o primeiro relatório científico sobre o surto, parecem confirmar as observações ... o VIH foi transmitido às crianças sobretudo como resultado de profissionais de saúde que usam agulhas e produtos sanguíneos contaminados”, disse o comunicado.

“O Paquistão registou uma série de surtos de VIH nas últimas duas décadas, mas nunca vimos tantas crianças infetadas nem tantas unidades de saúde envolvidas”, disse Fatima Mir, da Universidade de Aga Khan, em Karachi, na Índia.

Cerca de 70% dos 220 milhões de pessoas do Paquistão usam o setor privado de assistência médica, que na maioria das vezes não é regulamentado e raramente tem a limpeza e segurança vigiadas.

Entre muitos paquistaneses, a crença popular sustenta que as injeções intravenosas ou intramusculares são mais eficazes que os remédios por via oral, o que aumenta o uso de seringas em todo o país e a probabilidade de uso de agulhas sujas.

Logo após o surto de HIV em Ratodero, o governo agiu rapidamente, fechando três bancos de sangue e 300 clínicas administradas por equipas médicas não treinadas.

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