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“Essa doença nos tem matado, antes mesmo dela chegar”, Chefe Enock Taurepang, presidente do Conselho Indígena de Roraima (CIR)

CANAL S+ / VD
23-06-2020 13:36h

O grito de desespero chega do interior da Amazónia, no norte do Brasil, em pleno estado de Roraima, onde a pandemia da COVID-19 já matou pelo menos 50 indígenas e infectou perto de 300 pessoas nas comunidades, revelou o chefe Enock Taurepang em entrevista o Canal S+.

A partir da cidade de Boavista – capital do estado brasileiro de Roraima - o chefe Enock Taurepang, presidente do Conselho Indígena de Roraima (CIR) garante que a “vida das comunidades mudou por causa do vírus Sars-Cov 2”. Segundo o responsável o problema não reside apenas na pandemia da COVID-19, “mas em todas as outras doenças que afetam os indígenas da Amazónia e que ficam por tratar”, assegura visivelmente preocupado.

Apesar da FUNAI – Fundação Nacional do Índio – criada em Dezembro de 1967, ter como missão “coordenar e executar as políticas indigenistas do Governo Federal, protegendo e promovendo os direitos dos povos indígenas”, o organismo vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública apenas tem disponibilizado cabazes de comida para as comunidades indígenas, durante este período da pandemia da COVID-19.

Preocupado com a situação que se vive no terreno, pelas diversas comunidades indígenas, o chefe Enock Taurepang decidiu fazer um vídeo esta semana e divulgado nas redes sociais, onde expressa as suas preocupações pelo que está efetivamente a acontecer no interior da Amazónia. O presidente do Conselho Indígena de Roraima (CIR) denuncia a falta de medicamentos, de apoio médico, regras muito apertadas para acesso aos centros de saúde e hospitais e a inexistência de um protocolo médico de atendimento a seguir quando surgem indígenas infetados.

O chefe Enock Taurepang queixa-se ainda da existência de poucos testes para detetar a presença da COVID-19.  Um problema que deixa o líder indígena profundamente angustiado, dado que em algumas comunidades vivem mais de mil pessoas.

 

Para o chefe Enock Taurepang a “situação é critica e delicada” no interior da Amazónia e chegou o momento de procurar novas parcerias com outros organismos, de preferência internacionais, em quem possam realmente confiar. Para além da pandemia e do medo do vírus, “há outro problema de grande contágio no estado de Roraima que é a corrupção”, afirma. “Nós não confiamos no governo daqui”, lamenta o presidente do Conselho Indígena de Roraima, explicando de seguida que “Temos medo de que usem os nossos recursos para outros fins”, afirma o chefe.

O chefe Enock Taurepang garante que existem, neste momento, trinta e nove barreiras sanitárias no estado de Roraima, norte do Brasil, com o intuito de consciencializar as comunidades indígenas para a necessidade de adotarem medidas de proteção individual perante a pandemia da COVID-19. Porém, “o procedimento tem impedido muitos pais de família de irem trabalhar, seja na pesca ou na caça”, o que gerou um problema social e económico muito complexo.

Apesar da ajuda que receberam da FUNAI – Fundação Nacional do Índio – com a distribuição e entrega de cestas básicas alimentares e do próprio Conselho Indígena de Roraima ter comprado equipamentos de proteção individual (EPIs), tudo isso não chega ainda para fazer face às necessidades. “Temos mulheres indígenas que aprenderam a fazer máscaras e que as estão fazendo”, adianta o chefe Enock Taurepang e “outros parentes que estão produzindo álcool-gel, porque aprenderam a manusear os produtos e a fazer essa fórmula”, adianta.

Há dias o governo estadual de Roraima inaugurou um novo hospital de campanha com capacidade para mil e duzentas pessoas, mas ainda assim “o caos continua instalado nos outros hospitais e centros de saúde”, afirma o chefe Enock Taurepang que lamenta ainda a “falta de comoção e de sensibilidade que está a começar a existir na região perante a morte”. “A morte já se tornou normal no estado de Roraima”, assegura. Para o responsável indígena “Boavista está a tornar-se o pólo de disseminação da Covid-19 e a população tem falta de consciência do que está a fazer contra si própria”.  Oficialmente, o Estado de Roraima relata a existência de 245 mortos e 8037 infectados pela COVID-19, mas o presidente do Conselho Indígena de Roraima assegura que o número é bem superior.

 Dados recolhidos pela Organização Mundial da Saúde dão conta hoje de 51 mil 407 mortos no Brasil e 468 mil infetados activos.  

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