A Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa considera que a pandemia tornou “mais evidente a missão e a importância dos serviços de saúde” e que o Estado deve assegurar o direito à vida e à saúde.
“Tornou-se mais evidente que as despesas com esses serviços não são supérfluas ou facilmente dispensáveis. Pode continuar a debater-se, como até aqui, a parcela que nesses serviços caberá ao setor público, ao setor social e ao setor privado, mas é agora mais evidente que ao Estado cabe uma responsabilidade indeclinável de garantir que o acesso à saúde a ninguém é negado”, destacaram os bispos.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas Carvalho, acrescentou que a pandemia veio dizer que é preciso que o Estado “assegure o fundamental da vida e da saúde da população”.
“Assegure, não significa que tem de fazer tudo, mas é muito importante que esteja bem presente. Além disso, as pessoas que fazem este serviço devem ser reconhecidas e capacitadas para tal”, sublinhou.
Constatando a tarefa “incansável” destes profissionais de saúde, o bispo de Setúbal lembrou que “já antes da pandemia se falava do 'burnout' destes profissionais pelas tarefas acrescidas que lhes iam sendo acometidas e que precisavam de novas condições para exercerem bem o seu papel na relação com os doentes”.
José Ornelas afirmou ainda que “outra das preocupações” da CEP é que o “Estado assegure as condições necessárias de financiamento e de enquadramento a essas pessoas, mas também que saiba do ponto de vista de uma racional economia e social contar com a criatividade e a sinergia dos setores associativos, dos serviços sociais que são prestados pela própria sociedade civil e também pelas organizações privadas. O importante é que se encontre a melhor forma para se ir ao encontro das necessidades das pessoas”, destacou.
Para o bispo, a pandemia colocou em evidência o “valor inestimável de cada vida humana”.
Nas conclusões dos trabalhos, a CEP considera que a legalização da eutanásia e a mensagem cultural que essa legalização acarreta “contraria notoriamente estas lições e redescobertas” e “vem admitir que algumas vidas humanas, marcadas pela doença e pelo sofrimento, tenham perdido valor e deixem de ser merecedoras de proteção e porque vem desvirtuar a missão dos profissionais de saúde, a quem passa a ser pedido que deixem de proteger a vida em quaisquer circunstâncias”.
“O que reportamos como muito importante em todos estes meses foi a formação preciosa e fundamental da vida, que é o suporte para todas as outras dimensões, seja a economia, sociedade ou política. Antes de mais, é a defesa da vida a todos os níveis. Não só ao nível da medicina, mas ao nível da própria organização da sociedade, que defende a vida. A vida não é só no seu início e no seu fim”, considerou.
O bispo referiu ainda que “falar de qualquer forma de pôr termo à vida não quadra neste modo de entender a vida”.
“Isto significa que também no decurso da vida, ou menos vida, que tem a ver com condições de miséria e de precariedade a todos os níveis sociais, são um perigo para a humanidade inteira e não apenas para as pessoas diretamente atingidas. A pandemia fez-nos perceber como essas situações podem em causa a sociedade”, reforçou.
José Ornelas Carvalho alertou ainda para as condições de vida das pessoas, que terão “tendência a agravar-se nos próximos meses”.
“É geral, sobretudo para as famílias mais carenciadas, e mais carenciadas não quer dizer simplesmente de menores recursos. Agora, muitas pessoas que tinham uma vida relativamente bem organizada, de repente viram-se sem recursos e isso é algo que vai pesar na vida social”, informou.
O bispo de Setúbal lembra que a sua diocese já foi uma das mais atingidas por anteriores crises com uma “situação de penúria” e teve “uma repercussão social dramática”.
“É importante que não fique ninguém para trás, que não se volte a conhecer a situação estrutural de miséria que veio a atingir tantas famílias. Reconheço os esforços que o Governo está a fazer nesse sentido, de ir ao encontro destas pessoas, porque isso é que vai ao encontro de uma verdadeira economia. É preciso que as pessoas tenham dignidade e capacidade de poderem ter os bens necessários para a sua existência, porque isso vai redundar num maior equilíbrio de economia e social”, rematou o presidente da CEP.