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Covid-19: Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto estudam solução para otimizar a ventilação não invasiva

CANAL S+ / LP
22-05-2020 11:09h

Projeto liderado pela Universidade do Porto garante financiamento no âmbito da iniciativa "RESEARCH 4 COVID19", promovida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Em entrevista ao S+, Miguel Gonçalves, coordenador do projeto, professor e investigador da Unidade de Investigação Cardiovascular (UNiC) da FMUP explica que o objetivo é “reduzir os casos de insucesso do tratamento e o recurso à ventilação invasiva”.

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) são já instituições de referência na área da ventilação não invasiva e, nas últimas décadas, têm já contribuído para um maior conhecimento nesta área com a publicação de inúmeros artigos. Foi no CHUSJ que se assistiu a um maior número de doentes críticos com COVID-19 e a possibilidade de olhar para a ventilação não invasiva como uma estratégia terapêutica para estes doentes foi ganhando maior relevo, esclarece Miguel Gonçalves, investigador da Unidade de Investigação Cardiovascular (UNiC) da FMUP.

Ventilação invasiva e não invasiva

“Infetados com Covid19 são doentes mais graves, que não conseguem adquirir uma ventilação funcional e umas trocas gasosas adequadas, o que os faz entrar em falência respiratória aguda muito grave e, por consequência, têm de ser reconectados a um ventilador.”, começa por explicar o investigador.

O suporte ventilatório invasivo implica uma “sedação profunda e uma via aérea artificial, através de um tubo orotraqueal”, com uma ventilação mais sofisticada, uma maior monotorização, maiores recursos nos cuidados intensivos e uma maior sedação. "A ventilação não invasiva, principalmente no caso do COVID-19, e em qualquer doente hipoxémico, nunca é vista como uma alternativa à ventilação invasiva, é sempre vista como complemento”, realça o investigador.  

No entanto, quando o doente apresenta um quadro clínico menos grave, existe a possibilidade de ser assistido por um suporte ventilatório sem invadir a via aérea e sem colocar o tubo orotraqueal, recorrendo ao uso de uma máscara que pode ser nasal, facial ou total. De acordo com o investigador, no caso de doentes com SARS-CoV-2, como existe um circuito aberto e há maior dispersão de aerossolização, aumentando o risco de contágio, é colocado também uma interface que tapa toda a cabeça do doente – capacete -  protegendo-o a si e aos profissionais de saúde, conclui Miguel Gonçalves.

Projeto recebe financiamento de 30 mil euros

O projeto “Accurate tidal volume monitoring to optimize safe non-invasive ventilation settings in patients with SARS-CoV-2” recebe um financiamento de 30 mil euros pela iniciativa RESEARCH 4 COVID19, promovida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e que tem como objetivo melhorar a resposta do Serviço Nacional de Saúde no combate à pandemia por COVID-19.

De acordo com Miguel Gonçalves, esta bolsa vai possibilitar adquirir um monitor que não se encontra disponível em Portugal, e que vai permitir, através de um sistema de impedância elétrica, medir exatamente o volume corrente que o doente está a fazer, de uma forma não invasiva, com um sensor no peito. Colocando este sensor num doente em ventilação invasiva é possível ajustar as pressões e a própria sedação leve, permitindo gerir o volume corrente de uma forma mais rigorosa.”, esclarece. Os investigadores da Universidade do Porto esperam conseguir, através deste projeto e com este financiamento, “reduzir o falhanço da ventilação”.

Em Portugal, morreram 1.277 pessoas das 29.912 confirmadas como infetadas, e há 6.452 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.

Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.

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