O ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes propôs hoje, em Coimbra, um "cessar-fogo" no setor, oferecendo-se para ser o intermediário entre os diversos atores.
"Vivemos tempos de grandes exigências e grandes dificuldades, mas talvez fosse altura de ensaiar um cessar-fogo. Eu não me importaria de fazer o papel de Henry Kissinger”, afirmou o ex-ministro, que discursava durante uma cerimónia do Juramento de Hipócrates, em Coimbra.
O histórico diplomata norte-americano Kissinger venceu o prémio Nobel da Paz em 1973, tendo também sido acusado de envolvimento no apoio à instalação de ditaduras de direita na América Latina e de apoiar a anexação de Timor-Leste pela Indonésia.
Segundo Adalberto Campos Fernandes, é necessário "gerar um clima de consenso e de diálogo entre todos".
"Se não tivermos a capacidade de cessar-fogo, de nos juntarmos todos independentemente das diferenças ideológicas, políticas e profissionais, acreditem que daqui por cinco ou seis anos o Serviço Nacional de Saúde será pior do que aquilo que é hoje o serviço nacional britânico", vincou.
Adalberto Campos Fernandes salientou que acredita na medicina portuguesa, mas também acredita que “o poder político não acorda todos os dias de manhã a pensar no que vai fazer para aborrecer os médicos, enfermeiros ou qualquer outro grupo profissional".
Dirigindo-se aos novos médicos que participavam na cerimónia, o ex-ministro pediu-lhes que nunca desistissem "da liberdade, da autonomia e do espírito crítico".
"Um médico não é um funcionário. No dia em que o sistema de saúde transformar os médicos em funcionários, a qualidade da medicina decairá. A medicina deve ser exercida num quadro de autonomia, com rigor e cumprimento de deveres, mas um médico não pode ser capturado, nem por razões orçamentais, nem por razões administrativas", realçou.
Na cerimónia, participaram também, entre outros, o secretário de Estado da Saúde, António Sales, e o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.