O Presidente da República defendeu hoje, numa sessão com dezenas de médicos, académicos e professores, que é "um imperativo ético fundamental" que "quem mais recebe, mais dê", pedindo-lhes que sirvam "não só os pacientes, mas as comunidades em geral".
"Apelo a todos para que jamais esqueçam que são, como eu sou, privilegiados. Na educação recebida, na formação aprimorada, na docência exercida, na pesquisa ou na clínica aprofundada, no prestígio académico atingido. Por tudo isso, vossas excelências mais receberam da comunidade do que o comum dos vossos concidadãos, e, assim sendo, mais terão de dar a todos os demais", disse Marcelo Rebelo de Sousa.
Num discurso na aula magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), perante dezenas de médicos, professores e académicos, o chefe de Estado, que antes tinha pedido foco em "servir não apenas os pacientes, mas as comunidades em geral", frisou a ideia de que dar mais quando se recebe muito é "um imperativo ético fundamental".
"Quem mais recebe, mais tem de dar, num todo social em que não há ilhas. O meu apelo de hoje e de sempre é que nunca deixem de ser pessoas a cuidarem de outras pessoas. Mais ter recebido e mais ter obrigação de dar, determina ser-se o mais servidor dos servidores, o mais humilde dos humildes, o mais responsável de entre os responsáveis", defendeu.
Marcelo Rebelo de Sousa, que discursava na sessão de encerramento da Reunião das Academias Nacionais de Medicina de Portugal e do Brasil, uma iniciativa que também juntou representantes de Angola, Moçambique e Macau, começou por dizer que "são de vulto os desafios que se colocam" aos médicos e académicos.
Esses desafios devem-se à "aceleração do tempo, à investigação, à descoberta incessante de novas formas de prevenir, cuidar e acompanhar cada vez mais e mais destinatários e à premente necessidade de atualização", entre outros aspetos enumerados.
"É preciso imaginação, paciência e recursos ou meios para que a imaginação se não esgote e a paciência não se canse", acrescentou.
O Presidente da República também falou de um "contraste paradoxal entre mais e melhor saúde em muitos casos e maiores desigualdades em tantos outros", lançando a pergunta: "Se é hoje tão mais complexo ser-se político, o que dizer de ser-se professor ou médico, dois missionários da cura das almas, tanto quanto dos corpos?".
Antes de discursar, o Presidente da República tinha recebido a chave de prata da FMUP, uma homenagem do diretor, Altamiro da Costa Pereira, bem como o título de académico de Portugal e a medalha da Academia Nacional de Medicina de Portugal, pelas mãos da presidente desta instituição, Fátima Carneiro.
Confessando-se emocionado com ambas as ofertas, Marcelo Rebelo de Sousa, que à chegada foi presenteado com um CD de originais pela Tuna da FMUP, disse estar a lembrar-se dos "mais de 40 anos de serviço" à sua faculdade e a várias escolas universitárias, ou seja, referiu, "à Universidade em geral", mas também de seu pai.
"Um médico com uma memória de grandes mestres que conheceu e admirou, bem como com galardões que recebeu em Portugal e no Brasil numa vida em que a saúde andou sempre paredes meias com a política", disse.