O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, defendeu hoje a concentração dos esforços de prevenção e tratamento nas grávidas e nas crianças, para conseguir alcançar progressos no combate à malária.
"As mulheres grávidas e as crianças são as mais vulneráveis à malária e não podemos fazer progressos sem nos concentrarmos nestes dois grupos", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Tedros Adhanom Ghebreyesus falava, em Genebra, no âmbito do lançamento do Relatório Global sobre Malária 2019, que revela que, no ano passado, a malária afetou 228 milhões de pessoas e matou cerca de 405 mil, na sua maioria na África Subsariana.
O documento, que monitoriza anualmente a evolução da doença e os progressos alcançados na sua prevenção e combate, regista um "aumento significativo" no número de mulheres grávidas e crianças que dormem sob mosquiteiros tratados com inseticida e beneficiam de medicamentos preventivos.
Estima-se que 61% das mulheres grávidas e crianças na África Subsariana dormiram sob um mosquiteiro tratado com inseticida em 2018, em comparação com 26% em 2010.
Por outro lado, a cobertura com três ou mais doses recomendadas de tratamento preventivo na gravidez aumentou de um valor estimado de 22% em 2017 para 31% em 2018.
Ainda assim, aponta a OMS, demasiadas mulheres não recebem as doses recomendadas ou mesmo qualquer dose de medicamentos preventivos por falta dos próprios medicamentos ou de prescrição por parte do médico, além de muitas mulheres não terem sequer acesso a cuidados pré-natais.
Em 2018, 72% das crianças da sub-região africana do Sahel beneficiaram de medicamentos preventivos.
Apesar dos "sinais encorajadores" no domínio da prevenção em mulheres grávidas e crianças, a OMS aponta que não se registou qualquer melhoria na taxa global de infeções por paludismo entre 2014 e 2018, nos países mais afetados.
"Vemos sinais encorajadores, mas o fardo do sofrimento e da morte causado pela malária é inaceitável, porque é amplamente evitável. A falta de melhoria no número de casos e mortes por malária é profundamente preocupante", disse.
Por isso, a OMS sustenta que são necessários "esforços acelerados" para reduzir as infeções e mortes junto destes dois grupos, considerados os mais vulneráveis à doença.
A gravidez reduz a imunidade da mulher à malária, tornando-a mais suscetível à infeção e com maior risco de doença, anemia grave e morte.
A malária materna também interfere com o crescimento do feto, aumentando o risco de parto prematuro e de baixo peso à nascença, uma das principais causas de mortalidade infantil.
Em 2018, cerca de 11 milhões de mulheres grávidas foram infetadas com paludismo em países de risco de transmissão moderada e elevada na África Subsariana, o que resultou no nascimento de quase 900 mil bebés com baixo peso.
O financiamento insuficiente mantém-se como a grande barreira ao progresso do combate à doença, segundo a OMS, adiantando que em 2018, o financiamento total para o controlo e eliminação do paludismo atingiu cerca de 2,7 mil milhões de dólares, "muito aquém" da meta de financiamento de 5 mil milhões de dólares estimados como necessários pela organização.
O relatório faz ainda uma primeira avaliação aos resultados da estratégia iniciada em 2018 e destinada a 11 países que em 2017 concentravam 70% dos casos e mortes associadas à malária em todo o mundo.
De acordo com o documento, em novembro de 2019, esta estratégia tinha sido iniciada em nove destes países, com dois deles a comunicarem "reduções substanciais" nos casos de paludismo em 2018 em relação ao ano anterior: Índia (menos 2,6 milhões de casos) e Uganda (menos 1,5 milhões de casos).