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Produtores intensificam luta contra a vespa que ameaça castanha em Valpaços

LUSA
07-05-2020 16:41h

Produtores de castanha de Valpaços estão a intensificar a luta biológica contra a vespa das galhas do castanheiro, uma praga que assolou os soutos e ameaça a produção que é fonte de rendimento para muitas famílias.

“Estamos preocupadíssimos. Se não fizermos este trabalho daqui a meia dúzia de anos não colhemos uma castanha”, afirmou à agência Lusa Artur Esteves, agricultor que possui 80 hectares de castanheiros em Cabanas, perto de Carrazedo de Montenegro, no concelho de Valpaços, distrito de Vila Real.

É por isso que, em tempo de pandemia de covid-19, os produtores não descuram a luta contra a vespa das galhas do castanheiro e estão a realizar largadas dos parasitóides que eliminam a praga, a denominada luta biológica.

“Chegamos aos soutos e até temos pena. É uma lástima mesmo. Do ano passado para este ano nota-se muito, é uma loucura. Como estamos a ver aqui, tem ataques muito grandes”, salientou Artur Esteves.

A Lusa acompanhou uma largada que se realizou em Carrazedo de Montenegro, inserido na área da Denominação de Origem Protegida (DOP) da Padrela.

A iniciativa foi promovida pela associação AgriFuturo e acompanhada pela Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN).

O método mais eficaz de combate à vespa é a luta biológica que consiste na largada dos parasitóides ‘Torymus sinensis’, insetos que se alimentam das larvas que estão nas árvores e são capazes de exterminar a vespa.

Os parasitóides são importados de Itália, acondicionados em pequenos tubos. No souto, a tampa é retirada e espera-se que os insetos saiam para as folhas do castanheiro infestado.

“Temos que dar esperança ao nosso agricultor. Vivemos essencialmente da castanha, esta região estava a começar a fixar população fruto do rendimento da castanha, mas, neste momento, esta praga veio inverter completamente a nossa vida”, afirmou Lino Sampaio, dirigente da associação.

O responsável afirmou que “muitas famílias vivem do rendimento da castanha” neste território.

A AgriFuturo vai realizar 41 largadas. No total do concelho de Valpaços decorrerão 140 e cerca de mil em toda a região Norte.

O responsável referiu que a luta contra a praga que “assolou os soutos” vai “demorar muitos anos” e disse estar convencido que, a partir deste ano, se verificará que “plantas que não vão dar castanha”.

“É, de facto, uma luta vai demorar muitos anos até conseguirmos inverter esta situação”, salientou.

Acrescentou ainda que, nos soutos, é preciso implementar “boas práticas” como manter o coberto vegetal.

“Porque o inseto que nós estamos a lançar, o bicho bom, precisa de ter este habitat para poder sobreviver e fazer o trabalho que ele tem que fazer, isto é dar cabo do bicho mau que é a vespa”, frisou.

Sendo a Itália um país que está a ser muito afetado pela pandemia e de onde vem o ‘Torymus sinensis’, Lino Sampaio disse que os cuidados estão a ser maiores.

O material é manuseado com o devido equipamento de proteção, como as máscaras e luvas, e, por norma, este é um trabalho feito apenas por duas pessoas.

“A vespa das galhas do castanheiro é oriunda da China e a covid-19 veio da China. Estamos aqui a sofrer duplamente”, referiu.

A denominada luta biológica envolve os produtores, associações, autarquias e os serviços do ministério da Agricultura.

A dispersão da praga já era esperada quando foi detetado o primeiro foco de infestação em território nacional, em 2014.

Artur Esteves, que é também membro da Junta de Freguesia de Carrazedo de Montenegro e Curros, contou que integrou as brigadas criadas inicialmente em Valpaços e que percorreram o concelho a cortar os gomos das galhas onde se instala a vespa.

“Fomos assistindo à entrada da vespa nos soutos e andamos com o coração nas mãos. Eu, por mim, pouco ou muito é o mesmo, agora o problema são os meus filhos que não sabem fazer mais nada, só sabem trabalhar nisto, foi a única coisa que eu lhes ensinei”, frisou

Este produtor colheu 122 toneladas de castanha na última campanha e emprega 27 pessoas, durante cerca de um mês, durante a apanha.

O fruto é todo vendido para uma empresa exportadora do concelho.

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