O novo coronavírus foi a causa “da maioria" das dezenas de mortes misteriosas registadas durante as últimas semanas no estado do Kano, o segundo mais populoso da Nigéria, anunciaram as autoridades no domingo à noite.
"De acordo com os primeiros resultados da investigação, a maioria das mortes registadas ultimamente deve-se ao novo coronavírus", disse Nasiru Sani Gwarzo, chefe da equipa médica especializada na covid-19 no Kano.
"Embora as mortes fossem inicialmente atribuídas a outras doenças, podemos agora dizer que a principal causa da explosão do número de mortes em Kano deve-se ao novo coronavírus", afirmou, embora sem apresentar números concretos.
Os resultados finais da investigação ainda não estão prontos, mas o governador do estado de Kano, Abdullahi Ganduje, já avisou os 12 milhões de habitantes que aquele estado "tem graves problemas" em relação ao combate à pandemia.
"Começámos esta crise com o pé errado", acrescentou o governador, referindo-se ao encerramento de um laboratório especializado, que esteve fechado durante vários dias na semana passada, depois de um dos funcionários ter sido infetado com o novo coronavírus.
No final de abril, os media locais revelaram um aumento muito acentuado do número de funerais nos 68 cemitérios de Kano.
Um funcionário de um cemitério deste grande estado disse à AFP que chegou a enterrar, "dezenas de corpos por dia".
Numa entrevista à AFP, na sexta-feira, o diretor da ‘task force’ para a pandemia da covid 19 descreveu as mortes como "danos colaterais da guerra", atribuindo-as a outras doenças, como a malária, a hipertensão e a febre tifoide.
As farmácias e a maioria dos hospitais da cidade também fecharam.
Mas perante um forte aumento do número de óbitos, mesmo de algumas personalidades da região (professores universitários, chefes tradicionais), as autoridades decidiram investigar as "mortes misteriosas" e realizaram aquilo que designam de "autópsias verbais", interrogando as famílias dos falecidos.
No domingo, um dos cinco emires tradicionais daquele estado de maioria muçulmana, Tafida Abubakar Ila II, uma das maiores figuras tradicionais da região, morreu no hospital apresentando sintomas associados à covid-19.
Oficialmente, o número de pessoas infetadas naquele estado ultrapassa ligeiramente os 300, tendo sido registadas três mortes diretamente relacionadas com o novo coronavírus.
No entanto, a capacidade de rastreio é muito baixa, com apenas 88 testes realizados por dia, segundo Gwarzo, que promete chegar aos 300 até ao próximo fim de semana, ainda assim um número muito baixo num estado de 12 milhões de pessoas.
O Governo federal nigeriano decidiu abrir gradualmente o resto do país, mas manteve restrições rigorosas em Kano.
No entanto, o Governador Ganduje decidiu flexibilizar o confinamento alguns dias por semana, apesar da situação e os residentes de Kano reuniram-se nos mercados para comprar alimentos durante o período do Ramadão.
A Nigéria, o país mais populoso de África, com quase 200 milhões de habitantes, tem 2.558 casos declarados oficialmente de infeção pelo novo coronavírus e 87 mortes, sendo o quinto país do continente mais afetado pela doença.
O número de mortes provocadas pela covid-19 em África ultrapassou hoje os 1.800, com mais de 44 mil casos da doença registados em 53 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 247 mil mortos e infetou mais de 3,5 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de um milhão de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.