Meio milhar de cuidadores começou hoje na Cidade do Cabo a testar os eventuais efeitos protetores contra o novo coronavírus da velha vacina utilizada contra a tuberculose (BCG).
“O ensaio clínico começou. Vacinámos os primeiros participantes esta manhã”, disse Duncan McDonald, um dos líderes da organização de investigação médica TASK, que está a conduzir a experiência, citado pela agência noticiosa France-Presse.
O teste – com 250 cuidadores a receberem uma injeção de BCG (Bacillus Calmette-Guérin) e outros 250 um placebo - está a ser realizado no Hospital Tygerberg, com a direção do chefe da TASK, Andreas Diacon.
“Algumas observações sugerem que a BCG tem efeitos no sistema imunitário que ainda não compreendemos totalmente, incluindo se reforça o sistema imunitário contra infeções respiratórias”, disse Andreas Diacon.
Estudos demonstraram que as crianças imunizadas com BCG sofrem menos doenças respiratórias. Outros trabalhos sugerem que pode proteger contra a asma e doenças autoimunes, como a diabetes tipo 1.
Os cientistas estão a tentar demonstrar que pode ter semelhantes efeitos benéficos contra o novo coronavírus.
“Se fosse possível reduzir um pouco os sintomas desta epidemia de covid-19, aumentariam as hipóteses de sobrevivência, evitaria a hospitalização e até mesmo a doença”, adiantou Andreas Diacon.
O estudo clínico na Cidade do Cabo está a ser realizado em prestadores de cuidados porque “são os que estão mais expostos”, acrescentou.
Cerca de 300.000 pessoas - uma das taxas mais elevadas do mundo - contraem tuberculose na África do Sul todos os anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Todos os recém-nascidos neste país são vacinados com BCG, mas em 2018 a doença terá alastrado a cerca de 63.000.
Estão atualmente a ser realizados estudos clínicos equivalentes ao da Cidade do Cabo nos Países Baixos, Austrália e França para demonstrar um possível efeito de escudo do BCG. Os resultados ainda não foram publicados.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 247 mil mortos e infetou mais de 3,5 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de um milhão de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.