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Covid-19: ONG pede libertação de todos os jornalistas presos em África

LUSA
04-05-2020 09:23h

A coordenadora do programa para África de uma organização não-governamental para a liberdade de imprensa pediu hoje a libertação de todos os jornalistas em prisões no continente, dado que muitos aguardam julgamento e estão em risco de contraírem covid-19.

Segundo Angela Quintal, do Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), a contagem mais recente feita pela organização registava 39 jornalistas detidos na África Subsaariana, sendo que muitos destes estavam presos sem terem sido presentes a tribunal.

“Alguns estão a aguardar julgamento há já dois anos, outros estão em prisões sobrelotadas e onde as condições são terríveis”, disse Angela Quintal numa entrevista por telefone à Lusa, a partir de Nova Iorque.

A responsável deu o exemplo dos Camarões, “o maior aprisionador de jornalistas na África Subsaariana”, que atualmente tem oito jornalistas em estabelecimentos prisionais.

Cinco destes encontram-se na prisão central de Kondengui, na capital camaronesa Yaoundé, onde há registo de casos de covid-19, incluindo a morte de vários prisioneiros, segundo a imprensa local.

“A nossa preocupação é que obter a informação junto do Governo é praticamente impossível. O Governo não está preparado para nos contar o que está a acontecer ou que medidas vão tomar”, referiu a responsável do CPJ.

No dia 26 de abril, o Presidente camaronês, Paul Biya, anunciou que o seu executivo registou casos de propagação da doença dentro de estabelecimentos prisionais, ainda que não tenha divulgado o número de presos infetados.

“Eles [jornalistas] continuam numa situação em que estarem presos se pode tornar numa pena de morte. O seu jornalismo tornou-se numa pena de morte”, lamentou Angela Quintal.

Para tentar avançar com a libertação dos jornalistas detidos, o Programa para África do CPJ enviou missivas a todos os chefes de Estado africanos em que há registo de jornalistas detidos, pedindo a sua libertação e sublinhando que estes enfrentam uma forte probabilidade de serem infetados pelo novo coronavírus.

“Mas nós defendemos que os jornalistas não devem estar na prisão de qualquer maneira. O jornalismo não é um crime, e nós dizemos isso repetidamente”, acrescentou.

Angela Quintal apontou o caso do Chade, onde um jornalista foi recentemente libertado após um apelo feito pelo seu advogado e aprovada pelo Governo chadiano.

Da mesma forma, vários jornalistas detidos na Etiópia também foram libertados, mas a responsável do CPJ considera que há trabalho a fazer.

“Continuamos a trabalhar nos bastidores, a fazer trabalho de advocacia, a falar com eles [governos] e a tentar convencê-los de que esta é a forma de fazer as coisas, e não vamos desistir, porque a última coisa que queremos é ficar de consciência pesada por não termos lutado o suficiente para libertar pessoas que não são culpadas de crimes ou que deviam sequer estar na prisão”, vincou.

De acordo com dados do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana, o número de mortes provocadas pela covid-19 em África é quase dois mil, com mais de 40 mil casos da doença registados no continente.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 250 mil mortos e infetou cerca de 3,5 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Perto de um milhão de doentes foram considerados curados.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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