O isolamento social tem atingido negativamente muitos dos utentes do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, que entraram no contexto pandémico com quadros clínicos severos e enfrentam hoje problemas psíquicos agravados. Esta unidade de saúde tem procurado ajustar-se às circunstâncias para manter o acompanhamento a estas pessoas, e já prepara uma fase de retoma que será gerida com pinças. Estes e outros temas numa conversa com o assistente hospitalar Miguel Nascimento.
A pandemia de COVID-19 trouxe, como seria de esperar, constrangimentos vários ao funcionamento do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. O isolamento social, por um lado, implicou uma redução no número de colaboradores disponíveis para trabalhar, obrigando a um redimensionamento das atividades e dos programas. Por outro lado, a questão de saúde pública implicou um reajuste das condições de segurança e de higiene em serviços como as consultas ou o apoio domiciliário.
No caso dos internamentos, houve também a necessidade de uma reavaliação.
Se os utentes sentiram necessariamente as mudanças introduzidas no acompanhamento dado por esta unidade de saúde, também ao nível mental houve impactos. Miguel Nascimento dá nota de todo o stress e ansiedade provocados pela pandemia, que levaram nalguns casos ao agravamento da situação clínica dos doentes.
Quanto ao futuro, Miguel Nascimento considera que do ponto de vista das perturbações do foro mental, o que nos espera no pós-COVID poderá ser muito semelhante ao que aconteceu durante a crise económica de 2010-2011. De resto, assinala dois momentos chave: um de stress agudo, mais passageiro e circunscrito no tempo, e outro de stress crónico, menos intenso mas com tendência a instalar-se progressivamente na psique humana.
Para a fase de retoma gradual que agora se vai iniciar, e perante a ameaça que o vírus continua a representar, o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa vai manter muitas das medidas de segurança que adotou ao longo das últimas semanas. Haverá serviços a regressar ao ativo como o Hospital de Dia e as consultas, reajustados ao contexto atual, e os doentes crónicos poderão voltar a sair à rua mediante utilização de material de proteção fornecido pelo Centro.