SAÚDE QUE SE VÊ

Covid-19: Borrell nega em absoluto cedências à China na denúncia de ‘fake news’

LUSA
30-04-2020 18:21h

O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa garantiu hoje que o corpo diplomático europeu não cede a pressões externas quando denuncia campanhas de desinformação, negando liminarmente que tenha alterado um relatório para agradar a Pequim.

Numa videoconferência com a comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu, solicitada pelos eurodeputados na sequência de notícias sobre uma alegada cedência do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE) a pressões da China, Josep Borrell asseverou que o relatório publicado em 24 de abril passado não foi alterado, e sublinhou que o mesmo aponta sem ambiguidades a China como fonte de algumas das campanhas de ‘fake news’ promovidas no quadro da atual pandemia de covid-19.

“Estou aqui para explicar a realidade dos factos, acreditem ou não em mim. Mas olhem para a publicação e digam sinceramente se acham que se trata de uma publicação produzida para agradar às autoridades chinesas. De certeza que não ficaram contentes”, declarou.

O chefe da diplomacia pediu aos parlamentares para não ajudarem à propagação de uma acusação que garantiu ser falsa e que enfraquece a credibilidade de uma equipa que luta precisamente contra a desinformação, tendo por diversas vezes ‘apontado o dedo’ ao funcionário responsável pela fuga de informação, pedindo que não seja dada mais credibilidade a um indivíduo do que às dezenas de funcionários que trabalham para expor as campanhas de desinformação de que a União Europeia é alvo.

A polémica surgiu com um artigo do jornal New York Times, segundo o qual o mais recente relatório do SEAE sobre desinformação publicado na sua página na Internet foi alterado depois de pressões da China para que a linguagem fosse “suavizada”.

De acordo com a publicação norte-americana, que teve acesso ao ‘rascunho’ que circulou internamente, o documento original era muito mais crítico relativamente à atuação das autoridades chinesas do que a versão final que acabou por ser publicada, com atraso, na última sexta-feira, 24 de abril.

O jornal também indicou ter tido acesso a um correio eletrónico enviado por um funcionário europeu a colegas na véspera da publicação do relatório, no qual este escreve que “os chineses já estão a ameaçar com reações se o relatório for publicado”.

Tal como já argumentara o seu porta-voz na passada segunda-feira, o chefe da diplomacia europeia explicou que há sempre dois relatórios distintos, um para “circulação limitada e interna” e outro “destinado ao grande público”, sendo que aquele que é publicado na Internet é necessário mais cauteloso e curto, “dada a natureza sensível da informação” e a necessidade de verificar “cada acusação”, o que também leva a atrasos na sua divulgação.

“São dois documentos completamente diferentes. E este dirigido ao grande público não foi escrito sob pressão. Houve queixas? Sim, houve. Houve cedências a essas pressões? Não, não houve”, garantiu Borrell, sublinhando que o relatório tornado público - o terceiro de uma série no quadro da pandemia de covid-19 - “aponta muito claramente campanhas de desinformação patrocinada por Estados e nomeia muito especificamente os atores por trás delas, incluindo a China”.

Manifestando-se por vezes indignado com as acusações de que o SEAE foi alvo à luz desta polémica, o Alto Representante disse não poder aceitar “que a convicção ou sentimento pessoal de um membro da instituição crie danos à credibilidade desta”, pedindo então aos eurodeputados para não darem mais crédito a uma opinião pessoal do que a todo o trabalho que o corpo diplomático tem vindo a desenvolver para expor as campanhas de ‘fake news’ que muitas vezes visam precisamente “dividir a União Europeia”.

Borrell comentou a propósito que se tem assistido nas mais recentes campanhas de desinformação a uma "tendência para retratar as democracias ocidentais como fracas, divididas e incapazes de lidar com o desafio [da covid-19], enquanto aqueles que promovem tal narrativa tentam apresentar-se como os atores mais eficientes e solidários".

Segundo o diplomata espanhol, “um efeito positivo deste incidente é que trouxe atenção para o trabalho importante que o SEAE está a desenvolver”, convidando todos, eurodeputados incluídos, a visitar a página da Internet - www.euvsdisinfo.eu -, e julgarem por si próprios.

“Não houve um ‘suavizar’ das nossas conclusões, por muito desconfortáveis que possam ser. Por favor, verifiquem pessoalmente, está tudo ‘online’”, reforçou.

MAIS NOTÍCIAS