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Covid-19: ONG alerta para violência das autoridades na Guiné-Conacri durante confinamento

LUSA
29-04-2020 21:06h

A organização não-governamental de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) acusou hoje as autoridades da Guiné-Conacri de hostilizarem, intimidarem e deterem opositores devido às normas de confinamento impostas para conter a pandemia de covid-19.

“Conter o vírus requer que o Governo fortaleça a confiança junto dos guineenses para assegurar que o distanciamento social e outras medidas de proteção são respeitadas”, afirma a investigadora da HRW para África, Ilaria Allegrozzi, acrescentando que o executivo deve aproveitar a experiência com o Ébola para ganhar a confiança das comunidades.
O país foi afetado na sua história recente por um surto de Ébola que infetou mais de 3.800 pessoas, matando mais de 2.500 até junho de 2016.
De acordo com os dados mais recentes, a Guiné-Conacri contabiliza 1.240 casos de infeção pelo novo coronavírus, incluindo sete mortos e 269 recuperados, números que a HRW acredita serem conservadores, uma vez que o país dispõe de uma rede de testes limitada.
Atualmente, a Guiné-Conacri tem quatro laboratórios para a realização de testes, estando três localizados na capital, Conacri.
A HRW considera que o sistema de saúde guineense não está preparado para enfrentar um aumento elevado do número de casos de covid-19, pelo que o cumprimento das normas de distanciamento social é “especialmente importante”.
Citada pela organização, a oposição considera que a crise sanitária poderá ser utilizada como uma desculpa do executivo do Presidente, Alpha Condé, para calar os seus adversários e violar os direitos dos cidadãos.
“Temos utilizado os protestos públicos como os meios principais para expressar as nossas frustrações. As medidas de emergência limitam a nossa liberdade de nos reunirmos. Aceitamo-las devido à covid-19, mas não as vamos aceitar para sempre”, vincou um líder da Frente Nacional para a Defesa da Constituição (FNDC), uma coligação de partidos da oposição e grupos da sociedade civil.
Em 18 de abril, a FNDC convocou uma greve geral para 21 de abril, contestando a decisão de Condé organizar uma sessão para nomear o presidente da Assembleia Nacional, que iria requerer a presença de deputados, algo que a organização diz violar e contrariar a decisão do Governo em banir agrupamentos de pessoas.
A Guiné-Conacri tem sido palco de protestos nos últimos meses, com a oposição e sociedade civil a contestarem a liderança de Alpha Condé. Um marco recente foi alcançado durante o referendo constitucional de 22 de março, embora o dia tenha sido marcado por uma forte repressão pelas autoridades guineenses.
A HRW critica as detenções arbitrárias e agressões dirigidas a vários membros da FNDC, incluindo nas suas casas, desde o início das medidas de confinamento obrigatório.
De acordo com a organização de defesa dos direitos humanos, “os residentes de Conacri descrevem uma atmosfera de insegurança durante o confinamento”.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 217 mil mortos e infetou mais de 3,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Perto de 860 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
O número de mortes provocadas pela covid-19 em África ultrapassou hoje as 1.500, com quase 35 mil casos da doença registados em 52 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia no continente.

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