O medicamento antiviral remdesivir está envolto em informações divergentes sobre a sua eficácia contra a covid-19, com o laboratório norte-americano que o produz a defender essa eficácia e a revista científica The Lancet a divulgar informação contrária.
A farmacêutica Gilead anunciou hoje que o remdesivir teve resultados "positivos" num ensaio clínico feito em parceria com institutos de saúde americanos e é uma das hipóteses para tratar doentes com covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus.
No entanto, também hoje, a revista médica "The Lancet" publicou resultados dececionantes de um estudo chinês mais pequeno, feito igualmente em comparação com um placebo, que demonstrou que os doentes tratados com o remdesivir, um antiviral desenvolvido contra o ébola, mas nunca aprovado para outras doenças, não ficaram melhores do que os tratados com o placebo.
Não é raro os ensaios divergirem, mas o estudo dos institutos de saúde americanos estava entre os maiores e mais aguardados, como o estudo europeu Discovery, do qual se esperam resultados.
"A Gilead Sciences está ciente dos dados positivos de um estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas sobre o seu medicamento antiviral remdesivir para o tratamento da covid-19", disse a empresa.
"Positivo" significa que os doentes tratados recuperaram mais depressa, segundo os objetivos declarados do estudo, mas os números ainda não foram divulgados.
O diretor do Instituto de Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, falando na Casa Branca ao lado do Presidente dos Estados Unidos, mostrou-se apenas um pouco otimista, afirmando que não era uma vitória por "KO". Segundo o responsável a mortalidade no grupo de controlo seria de 11%, contra 08% no grupo remdesivir.
O ensaio clínico começou a 21 de fevereiro e incluiria 800 doentes de covid-19, dos Estados Unidos e de outros países. Nem os doentes nem os médicos sabiam se a solução intravenosa era remdesivir ou placebo, parecido com a droga mas apenas com ingredientes inativos.
Muitos ensaios clínicos estão a decorrer na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos para encontrar um tratamento eficaz contra a covid-19.
Até agora apenas o estudo chinês, feito entre 06 de fevereiro e 12 de março em dez hospitais de Wuhan, cidade onde teve origem a pandemia, foi devidamente avaliado e publicado. Os seus resultados estiveram por pouco tempo, a 23 de abril, na página da Organização Mundial da Saúde mas foram depois retirados.
Neste estudo participaram 237 doentes, dois terços dos quais tratados com remdesivir. Os médicos queriam mais de 450 doentes mas a pandemia parou na cidade antes que chegassem a esse valor.
“O tratamento com remdesivir não acelera a cicatrização nem reduz a mortalidade da covid-19, em comparação com o placebo”, segundo um resumo do estudo publicado na “The Lancet”.
“Infelizmente o nosso ensaio mostrou que embora seguro e bem tolerado o remdesivir não mostrou nenhum benefício significativo por comparação com o placebo”, comentou o autor principal do estudo, o professor Bin Cao, citado num comunicado da “The Lancet”.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 218 mil mortos e infetou mais de 3,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Em Portugal, morreram 973 pessoas das 24.505 confirmadas como infetadas, e há 1.470 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.