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Covid-19: "Dos 580 lares das Misericórdias Portuguesas, só 10 têm episódios de doentes com COVID"

CANAL S+ / VD
25-04-2020 02:00h

Os números foram apresentados por Manuel Caldas de Almeida, vice-presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e um dos médicos que integra o gabinete de apoio criado, especificamente, para acompanhar a pandemia da COVID-19, dentro da UMP.

Em entrevista exclusiva ao Canal S+, o médico especializado em geriatria garante que “mais cedo ou mais tarde o vírus vai acabar por entrar nas residências onde vivem dezenas de idosos, mas o que estamos a fazer, desde o momento zero, é minimizar esse impacto. Ele (o vírus) vai chegar um dia, mas queremos que chegue o menos possível e já agora o mais tarde possível”, remata o responsável pelo apoio médico da UMP a todas as misericórdias do Alentejo.

Habituadas a reagir perante as maiores adversidades, as Misericórdias Portuguesas que comemoram este ano 500 anos de História, foram eficazes na resposta: ao limitarem as entradas em todas as instituições para evitar contágios desnecessários da população idosa, referenciada como de grande risco; ao medirem a temperatura dos funcionários que inevitavelmente têm de aceder às infraestruturas; e ao reforçarem a desinfeção dos vários espaços. As medidas de resposta à pandemia, provocada pelo vírus Sars-Cov 2, foram trabalhadas sempre em sintonia com os centros de saúde, as equipas de saúde pública, as autarquias e as normas publicadas pela Direção-Geral de Saúde (DGS).

Na semana em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que a situação nos lares da Europa é uma “tragédia humana inimaginável”, Manuel Caldas de Almeida mostra-se preocupado, mas apesar de tudo confiante. O vice-presidente da UMP adianta que o maior problema fez-se sentir no início do surto, quando não havia praticamente nenhuma instituição com equipamentos de proteção individual (EPIs) para fornecerem aos idosos ou até mesmo aos seus funcionários. Agora, “com o gabinete de apoio da UMP há responsáveis para adquirir EPIs e deste modo minimizar o impacto da doença junto da população mais vulnerável e que tem de ser protegida a todo o custo”, argumenta o responsável que destaca ainda a ajuda que a Misericórdia de Macau fez chegar a Portugal. Foi um contributo absolutamente “decisivo e bastante expressivo”, afirma agradecido.

Conscientes de que vamos ter de conviver por mais algum tempo com o novo coronavírus até surgir um tratamento ou uma vacina eficaz, o médico geriatra responsável pela UMP esclarece que a população idosa residente nos lares tem maioritariamente uma idade muito avançada e padece de co-morbilidades, o que não ajuda em nada a travar um cenário pandémico como o que estamos a viver. Para o clínico alguns destes idosos, na eventualidade de serem infetados, nem sequer “ganham nada em irem para um hospital central ou ficarem internados numa Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), ligados a um ventilador”. Por vezes, o seu quadro clínico pode implicar maiores riscos do que benefícios, explica Manuel Caldas de Almeida ao Canal S+.

“Há no entanto um aspeto que tem ajudado muito que se prende com o papel dos cinco Secretários De Estado nomeados pelo Governo de António Costa para acompanharem de perto o evoluir da pandemia no país”. Segundo o vice-presidente da UMP tem existido uma grande coordenação entre todos os intervenientes e seria ótimo que no fim da pandemia o Estado entendesse de uma vez por todas a importância de dar uma resposta combinada à população idosa, entre a Segurança Social e a Saúde. “Isso seria ótimo!”, afirma categórico.

A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) está igualmente a trabalhar na aquisição de mais EPIs para colocar em funcionamento os diversos serviços de Apoio Domiciliário das Misericórdias. “Estamos a falar de novo de populações idosas e, por vezes, a viver em locais pouco acessíveis e que precisam deste apoio diariamente”, reforça Manuel Caldas de Almeida. Em marcha está já "um plano conjunto", revela, envolvendo as Câmaras Municipais e o Ministério da Saúde com a coordenação direta do Governo; ao mesmo tempo que a UMP prepara a criação de locais especificos para albergar utentes idosos infetados.

Com a expectativa do “regresso à normalidade” em Maio, enraizado na opinião pública, é natural que a UMP siga as indicações do Governo e retome também a “possível normalidade” nas creches e jardins de infância que estão à sua responsabilidade. “Como é que os pais podem voltar aos empregos sem as creches abrirem?”, questiona Manuel Caldas de Almeida.

Ontem o Primeiro-Ministro esclareceu à saída de um encontro, em São Bento, que até dia 2 de Maio o país continua em Estado de Emergência. António Costa garantiu aos jornalistas que caberá ao Presidente da República decidir, de 15 em 15 dias, que medidas de restrição à circulação e ao confinamento serão progressivamente levantadas e como serão. Para o chefe do executivo é melhor “esperar mais uns dias e correr tudo bem, do que nos precipitarmos e depois termos de regressar todos a casa”.

Para o vice-presidente da UMP abrir as creches e jardins de infância é talvez o maior desafio de todos, porque ninguém pode ou consegue controlar as crianças de modo a que estas mantenham o devido distanciamento social ou que cumpram todas as medidas de segurança aconselhadas para evitar o contágio pelo Sars-Cov 2. A tarefa é de tal modo “hercúlea” que não pode ser completada apenas pelas Misericórdias Portuguesas; precisa seguramente do apoio de todos os pais, salienta Manuel Caldas de Almeida. Para o médico antes de elaborar um plano de como o vamos fazer, temos de ver as experiências de outros países, que neste preciso momento, já o estão a fazer. É no mínimo “aconselhável e prudente”, garante.

Se parece certo que 2020 entra para a História da Humanidade como o ano da pandemia COVID-19, será também o ano em que a UMP celebra os seus 500 anos. Mais do que uma efeméride de rodapé de jornal, este ano todas as instituições do universo UMP estão a ser fortemente postas à prova. "Será preciso recorrer ao ADN resiliente e audaz de todos os seus profissionais para vencer estes dias sombrios que vivemos. Só assim será possível ajudar, de novo, os mais frágeis, doentes e carenciados", conclui.

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