O primeiro-ministro de Cabo Verde disse hoje que delegou poderes no ministro da Administração Interna para o governante coordenar na ilha da Boa Vista a resposta à pandemia de covid-19, com 45 novos casos.
De acordo com o anúncio feito pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, durante a visita que realizou hoje à Boa Vista, o ministro Paulo Rocha, que tutela as forças de segurança e de proteção civil, vai ficar naquela ilha durante 14 dias, a coordenar as operações, depois de 45 casos confirmados só na quarta-feira, em funcionários do mesmo hotel.
O ministro da Administração Interna (MAI) terá a função de coordenar a parte política e a parte operacional de todas as ações relacionadas com a prevenção, mitigação e resposta no combate ao covid-19, divulgou o Governo, após a reunião do primeiro-ministro na Boa Vista, já na presença de Paulo Rocha.
“Isso faz com que a presença do Governo seja muito mais forte e efetiva. O dirigente terá todas as competências delegadas pelo próprio primeiro-ministro, para fazer ações de coordenação e acompanhamento, no sentido de reforçar a fiscalização marítima e não só, o confinamento obrigatório, o isolamento social e o reforço do exercício da autoridade”, explicou Ulisses Correia e Silva.
Ao terreno já chegaram especialistas médicos e de enfermagem para reforçar a estrutura local de saúde, bem como de militares e agentes do Corpo de Intervenção da Polícia Nacional, para fazer cumprir a quarentena na ilha e o confinamento obrigatório.
O Presidente cabo-verdiano afirmou hoje que a prioridade é agir “sem erros” no combate à pandemia, não sendo ainda tempo para apurar responsabilidades na situação do hotel da Boa Vista que registou 45 novos casos de covid-19 num dia.
“Há tempo para apuramento de responsabilidades, para se assacarem responsabilidades, para se assumirem consequências dos erros. Mas não temos tempo a perder nesta situação, neste momento é agirmos, evitando erros”, afirmou Jorge Carlos Fonseca, questionado pelos jornalistas sobre a situação do Hotel Riu Karamboa no final da declaração ao país, em que anunciou a prorrogação da declaração do estado de emergência.
Na mensagem, o chefe de Estado enviou um “abraço de solidariedade” ao povo daquela ilha, que conta no total com 51 dos 55 casos de covid-19 registados atualmente em Cabo Verde, bem como uma “palavra de esperança e de força”, pedindo simultaneamente “respeito pelas instruções e determinações das autoridades”.
“Evitemos o máximo possível mais falhas e mais erros”, disse Jorge Carlos Fonseca.
O primeiro-ministro cabo-verdiano afirmou na quarta-feira que o que aconteceu naquele hotel representa uma “dura lição”, assumindo “erros” e garantindo que vai “endurecer” as medidas de isolamento.
“O que aconteceu na Boa Vista é um exemplo daquilo que não pode acontecer. O Governo assume as falhas e erros que possam ter sido cometidos, apesar de ter cumprido os protocolos internacionalmente exigidos”, afirmou Ulisses Correia e Silva, numa mensagem ao país, poucas horas depois de confirmados mais 45 casos de covid-19 em funcionários do hotel Riu Karamboa, que cumpriram no seu interior 23 dias de quarentena.
No domingo, perante forte pressão dos próprios a partir do interior, as autoridades de saúde locais deixaram que os cerca de 200 trabalhadores terminassem a quarentena no hotel, passando para quarentena domiciliária.
No entanto, rapidamente surgiram relatos públicos de incumprimento dessas medidas no exterior, bem como das medidas de proteção individual no interior do hotel, que registou em 19 de março o primeiro caso de infeção pelo novo coronavírus em Cabo Verde, um turista inglês, de 62 anos, que acabou por morrer poucos dias depois.
Na mensagem ao país, Ulisses Correia e Silva afirmou estar a ser “claro” ao apontar igualmente “responsabilidades” aos trabalhadores em quarentena no hotel.
“Sob que tipo de protesto for, é de extrema gravidade a irresponsabilidade de promover, estimular ou incitar trabalhadores em quarentena à rebelião ou motim contra forças de segurança. Assim como foi de uma grande irresponsabilidade o não cumprimento de regras de confinamento nos quartos e as regras de distanciamento, importantes para garantir não efeitos de contágio”, disse.
E acrescentou: “É de irresponsabilidade ainda maior o não cumprimento rigoroso do isolamento depois da saída do hotel para as suas residências. Como resultado temos pelo menos 45 casos positivos na Boa Vista derivados da situação do hotel”.
Além dos 51 casos da Boa Vista, Cabo Verde conta com mais três de covid-19 na ilha de Santiago e um na ilha de São Vicente.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 133 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 436 mil doentes foram considerados curados.