A Câmara Municipal de Lisboa lamentou hoje a morte do escritor chileno Luis Sepúlveda, aos 70 anos, vítima de covid-19, lembrando a “atração especial por diferentes culturas e etnias”.
“A Câmara Municipal de Lisboa lamenta profundamente a morte de Luís Sepúlveda e envia condolências à família e amigos do escritor chileno”, lê-se numa nota divulgada no ‘site’ na autarquia.
Sepúlveda, é referido, foi autor de dezenas de novelas, livros de viagens, guiões e ensaios, tendo deixado o seu país em 1977, em plena ditadura, e, depois de um périplo de anos por vários países da região, acabou por se fixar em Espanha.
“Ativista político, jornalista e grande viajante, tinha uma atração especial por diferentes culturas e etnias, quiçá devido à sua ascendência indígena”, é salientando.
A Câmara de Lisboa recorda também que alguns dos seus livros, traduzidos em mais de 60 línguas, foram adaptados ao cinema, nomeadamente “O velho que lia romances de amor”, enquanto outras obras “valeram-lhe vários prémios e distinções, quer no Chile, quer a nível internacional, tendo sido nomeado 'Cavaleiro das Artes e das Letras' pela República Francesa”.
“Publicada no ano passado, 'História de uma baleia branca' foi a última obra de Sepúlveda, para quem o escritor devia ser a voz dos esquecidos e dos perdedores, já que os vencedores – afirmava – estão sempre em condições de escrever a sua própria versão da história", é acrescentado.
O escritor, argumentista e realizador de cinema morreu hoje no Hospital de Oviedo, no norte de Espanha, onde estava internado desde 29 de fevereiro, e sofria de uma pneumonia associada à covid-19.
Os primeiros sintomas ocorreram dias antes, quando esteve no festival literário Correntes d'Escritas, na cidade portuguesa da Póvoa de Varzim, levando, na altura, a organização a recomendar uma quarentena voluntária aos que participaram no festival e estiveram em contacto com o escritor chileno.
A situação ocorreu ainda antes de as autoridades portuguesas confirmarem oficialmente qualquer registo de infeção no país, o que só viria a acontecer em 02 de março.
Luís Sepúlveda, que nasceu no Chile a 04 de outubro de 1949, estreou-se nas letras em 1969, com "Crónicas de Piedro Nadie" ("Crónicas de Pedro Ninguém"), dando início a uma bibliografia de mais de 20 títulos, que inclui obras como "O Velho que Lia Romances de Amor" e "História de Uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar".
Sepúlveda foi apoiante do Governo de Unidade Popular, do Presidente Salvador Allende, no Chile, chegando a fazer parte da sua guarda pessoal. Depois do golpe de estado militar de 11 de setembro de 1973, liderado pelo general Augusto Pinochet, a instituição da ditadura o escritor à prisão, primeiro, e depois ao exílio, na sequência de uma intervenção da Amnistia Internacional.
O escritor tem toda a obra publicada em Portugal - alguns títulos estão integrados no Plano Nacional de Leitura -, e era presença regular em eventos literários no país.
Luís Sepúlveda era casado com a poetisa Carmen Yáñez, que também esteve hospitalizada e em isolamento.