Mulheres sérvias e muçulmanas de Srebrenica, a cidade da Bósnia-Herzegovina onde há 25 anos decorreu um massacre, estão a unir esforços para combater a covid-19 ao fabricarem máscaras caseiras de proteção, noticia hoje a agência EFE.
“A nossa ideia consiste em mostrar à população que nestes tempos tão incertos estamos com eles, para que se sintam um pouco mais seguros e protegidos com estas máscaras”, disse à EFE Valentina Gagic-Lazic, uma das responsáveis pela iniciativa lançada pelo organização não-governamental (ONG) SARA-Srebrenica.
Em julho de 1995, na fase final da guerra civil na Bósnia-Herzegovina, as tropas sérvias bósnias entraram no enclave e cerca de 8.000 homens e rapazes muçulmanos bósnios em idade de combater foram mortos em confrontos armados quando tentavam escapar do enclave, ou executados.
O extinto tribunal para a ex-Jugoslávia (TPIJ) definiu os acontecimentos de Srebrenica como “genocídio”.
Gagic-Lazic, que desde há duas décadas tenta promover o reforço das relações entre a população da cidade, assegurou que neste momento “se sente solidariedade” em Srebrenica.
“Estamos orgulhosos com os nossos habitantes, com a nossa associação, que é plurinacional, de que exista confiança entre todos”, enfatizou a ativista.
“Mas foi um longo caminho para conseguir que nos olhem sem receio”, reconheceu no decurso à reportagem da EFE.
Há alguns dias, através das redes sociais, a associação pediu contribuições para coser e distribuir máscaras com o objetivo de reduzir a propagação do contágio entre a população.
Na Bósnia-Herzegovina, um dos países mais pobres da Europa e que permanece fraturado entre muçulmanos (bosníacos), sérvios e croatas – os três “povos constituintes” reconhecidos pelas instâncias internacionais – registaram-se até ao momento cerca de 1.100 contágios pelo novo coronavírus com 41 mortos, indicam os números oficiais.
Em poucos dias, numerosas mulheres de Srebrenica e de todas as origens começaram a reunir o material necessário e a disponibilizar os seus conhecimentos e ideias para esta iniciativa.
“De forma rápida e espontânea organizámos um pequeno atelier em que umas cosem, outras lavam e outras engomam e embalam”, contou Gagic-Lazic, uma das fundadoras em 1999 da SARA-Srebrenica, uma ONG que pretende fomentar a confiança entre as comunidades de Srebrenica, onde oficialmente ainda não foi registado nenhum caso da doença infecciosa.
Em poucos dias, as mulheres produziram e distribuíram centenas de máscaras em Srebrenica, uma localidade de 15.000 habitantes situada no leste da Bósnia e integrada na Republika Srpska (RS, a entidade sérvia bósnia).
A ativista não possui um número exato das máscaras produzidas, entregues de seguida a voluntários que as distribuem pelos idosos, empregados no comércio local, farmácias, e ainda aos operários da construção civil e a todos os que trabalham neste período de confinamento.
As máscaras são entregues gratuitamente em embalagens de plástico com a mensagem escrita “Esperando que tudo isto passe rapidamente, desejamos-vos um bem infinito. Cuidem-se e fiquem em casa. As vossas concidadãs”.
A divisão entre sérvios e muçulmanos permanece visível na vida quotidiana da cidade, com pouco espaço para atividades comuns aos dois povos, apesar de exceções como o clube de futebol Guber ou vários coros de crianças.
A nível global, a pandemia da covid-19 já provocou mais de 137 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 450 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 629 pessoas das 18.841 registadas como infetadas.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa quatro mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.