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Covid-19: Porto e Tâmega e Sousa com "taxas elevadas” de infeção - Associação de Geógrafos

LUSA
16-04-2020 16:08h

O Porto, a sua Área Metropolitana e o Tâmega e Sousa, no Norte, "têm mantido taxas elevadas" de infeção por covid-19 e na Grande Lisboa a "evolução é claramente mais favorável", alertou hoje a Associação Portuguesa de Geógrafos (APG).

"Temos olhado para os números absolutos, que mostram a região Norte como tendo mais infetados, mas devemos ver também a intensidade [infetados por habitante] e a variação da infeção. Existe uma manutenção de taxas de infeção elevadas no Porto, na Área Metropolitana do Porto e na zona do Tâmega e Sousa. O concelho de Lisboa, embora com números elevados, está em 40.º lugar quando considerada a taxa de infeção", observou José Alberto Rio Fernandes, presidente da APG, em declarações à Lusa.

"Isto é algo que devia merecer um aprofundamento científico", acrescentou o responsável, explicando ter feito a análise dos dados organizados pela APG a partir dos números diários da Direção-Geral da Saúde sobre a pandemia, cujo resultado está disponível 'online', com gráficos e mapas a exibir em cores a "variação semanal de casos" e "casos por 10 mil habitantes".

Rio Fernandes alerta que os concelhos mais populosos do país são "Lisboa, Sintra e Vila Nova de Gaia" e que o Porto, sendo um concelho que uma densidade populacional menor, tem "taxas de infeção manifestamente elevadas" desde que o surto chegou a Portugal.

De acordo com o presidente da APG, Lisboa "tem tido, desde o início do surto, uma evolução claramente mais favorável".

"Em termos gerais, o mesmo se passa comparando o Norte com o Sul" relativamente à taxa de infeção, vincou.

Entre 31 de março (de acordo com os dados divulgados pela DGS a 01 de abril) e 14 de abril (dados divulgados pela DGS na quarta-feira), Lisboa passou de 0,11% para 0,19% da população infetada, segundo os dados analisados pela APG e divulgados à Lusa.

Quanto ao concelho do Porto, duplicou a taxa de infeção nos últimos 15 dias, segundo a APG.

Com 0,23% da população infetada a 31 de março (boletim da DGS de 01 de abril), o Porto passou para 0,46% nos dados da DGS divulgados na quarta-feira.

Com ligeiras variações percentuais, o mesmo aconteceu nos municípios vizinhos de Maia, Matosinhos, Valongo ou Gondomar.

Mais abaixo na taxa de infeção está Vila Nova de Gaia: dos 0,13% da população infetada a 31 de março, passou para 0,31, de acordo com a análise estatística feita por Pedro Chamusca, da direção da APG.

A intensidade da covid-19 é atualmente mais elevada em Vila Nova de Foz Côa.

Com um total de 72 casos confirmados até às 24:00 de terça-feira, aquele concelho da zona do Douro, no distrito da Guarda, apresentava uma taxa de infeção de 1,10%, segundo dados facultados à Lusa pela APG.

Para Rio Fernandes, "mais interessante do que observar a mera quantidade" é analisar a "intensidade", ou seja, "a taxa de infeção" e a forma como "varia espacialmente e ao longo do tempo".

O presidente da APG refere que a "intensidade" da infeção é elevada "em alguns municípios que, tendo pouca população, teve pequenos surtos de propagação rápida", como aconteceu nos concelhos onde se detetaram infeções em lares.

"Foram casos que afetaram poucas pessoas, mas, estatisticamente, a taxa é elevada porque são zonas com baixa demografia", explicou.

A intensidade da covid-19 tem-se manifestado também "em casos do Noroeste industrializado e associados ao Grande Porto", ou seja, numa área metropolitana urbana e industrial.

"Estamos a falar de um espaço urbano muito aberto ao exterior do ponto de vista económico. Muito ligado à internacionalização da economia", descreveu.

Apesar das medidas de contenção e isolamento social, as taxas de infeção nestas zonas não desceram porque "a possibilidade de contágio é sempre maior onde o vírus está mais presente".

"A partir do momento em que há infetados numa região, o aumento, num contexto de contenção, aparece pela propagação de proximidade. Uma pessoa que more em Gondomar não vai para Vimioso, por exemplo. Não pode. Mas pode infetar o amigo, o vizinho ou a família", descreve Rio Fernandes.

O relatório da situação epidemiológica da Direção-Geral da Saúde com dados atualizados até às 24:00 de quarta-feira, indica que a região Norte continua a registar o maior número de infeções, totalizando 11.237, seguida pela região de Lisboa e Vale do Tejo, com 4.237 casos, da região Centro (2.756), do Algarve (300) e do Alentejo com 156 casos.

O mesmo documento refere que a região Norte é a que regista o maior número de mortos (355), seguida pelo Centro (146), pela região de Lisboa e Vale Tejo (115) e pelo Algarve, com nove mortos.

Os dados da DGS precisam que o concelho de Lisboa é o que regista o maior número de casos de infeção pelo coronavírus (996), seguido do Porto (988), Vila Nova de Gaia (956), Matosinhos (824), Gondomar (777), Braga (775), Maia (686), Valongo (552), Ovar (487) e Sintra com 437 casos.

A covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.

Portugal, que se encontra em estado de emergência e onde o primeiro caso foi confirmado em 02 de março, está na terceira e mais grave fase de resposta à doença (Fase de Mitigação), ativada quando há transmissão local, em ambiente fechado, e/ou transmissão comunitária.

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